domingo, 26 de junho de 2011

Joyce Johnson, " Minor Characters" - mais um fragmento

(Mais um) FRAGMENTO do livro, “Personagens Menores” (Minor Characters ) de Joyce Johnson.

“No final dos anos 1950, mulheres jovens – poucas, no início – mais uma vez saiam de casa com uma certa violência. Elas também vinham de boas famílias, e seus pais nunca conseguiram entender como as filhas que eles tinham criado com tanta dedicação poderiam escolher uma vida precária. Se esperava de uma filha que ela ficasse sob o teto dos pais até casar, mesmo se trabalhasse um ano, mais ou menos, adquirindo assim um pouco de gosto pelo mundo - mas não muito! Experiência, aventura – estas coisas não eram para mulheres jovens. Todo mundo sabia que as aproximariam do sexo. Sexo era para os homens. Para as mulheres, sexo era tão perigoso quanto a roleta russa; uma gravidez indesejada ameaçava a vida em mais de um sentido. Quanto à arte – as jovens estilosas tinham um lugar como musas e admiradoras.

As que entre nós empreendiamos o vôo para fora não achávamos modelos utilizáveis para aquilo que faziamos. Não queríamos ser nossas mães ou professoras solteironas ou mulheres profissionais duronas como elas eram retratadas na tela. E ninguém tinha nos ensinado como ser escritoras ou artistas. Sabíamos um pouco sobre Virginia Woolf mas não a achávamos relevante. Os privilégios que ela tinha nos desencorajavam, nascida como era num meio literário, e de conexões e riqueza. O “teto todo seu” do qual ela escrevia pressuponha que seu habitante tivesse uma pequena renda familiar. Com nossos cursos superiores, a gente poderia datilografar até fazer uns $50 dólares por semana - apenas o suficiente para comer e pagar o aluguel para um pequeno apartamento em Greenwich Village ou North Beach, sobrando pouco para sapatos ou pagar a conta de luz. Nada sabíamos sobre a romancista Jean Rhys, quem numa época anterior tambem tinha fugido da respeitabilidade, boiando perigosamente na Boemia Parisiense da década de 1920. Talvez tivéssemos nos identificado com sua falta de confiança naquilo que escrevia ou tomássemos como uma alerta a passividade corrosiva das suas relações com os homens. Mesmo assim, nenhuma alerta teria nos parado, com toda essa fome que tínhamos de abraçar a vida e tudo que fazia parte da realidade. A própria dureza da vida era algo para saborear.

Naturalmente, nos apaixonávamos por homens que eram rebeldes. Caíamos muito rapidamente, acreditando que nos levariam junto nas suas viagens e aventuras. Não esperávamos ser rebeldes por conta própria; não contávamos com a solidão. Uma vez que encontrávamos nossos parceiros masculinos, uma fé cega nos impedia de desafiar as antigas regras do masculino e feminino. Éramos muito jovens e tínhamos dado um passo maior do que a perna. Mas sabíamos que tínhamos feito algo que exigia coragem, algo quase inédito. Éramos as que ousaram sair de casa."

Versão: Miriam Adelman

sábado, 25 de junho de 2011

Outro poema de Diane di Prima

Novos empreendimentos, novas traduções. Vai uma primeira versão
de mais um poema de Diane di Prima (disculpem, mas por algum motivo
não consigo manter o formato do poema ao passá-lo aqui para o blog):

THE LOBA ADDRESSES THE GODDESS/OR THE POET AS PRIESTESS ADDRESSES THE LOBA-GODDESS

A LOBA SE DIRIGE À DEUSA/OU A POETA COMO SACERDOTISA SE
DIRIGE À LOBA-DEUSA.

Não é a teu serviço que eu me desgasto
correndo em farrapos entre as colinas, levando as crianças
de carro para assistir filmes esquecidos? A teu serviço
vassoura e caneta. Os banquetes monstruosos
que servimos para os outros na varanda
(em casa temos só arroz e sal)
E vestimos nossa exaustão como um roupão pintado
Eu & minhas irmãs
resgatando a mercadoria de pais
avaros e moribundos

curando umas às outras c/água e ervas amargas
de jeito que quando ficamos nuas, de pé no círculo da luz
(do lado do poço pequeno, na pequena mata próxima)
não revelamos nenhum defeito, também nenhuma
beleza supérflua.
Foi-se, nas medidas da noite.
Ô Semente, Ô manto de estrelas, tentamos te capturar
esguio, de luto
esfarrapado, triunfante

desgrenhado como um gramado

nossa pele dói do parto/escuridão da lua.

versão: Miriam Adelman

domingo, 12 de junho de 2011

It Takes Two to Tango

Here´s a work in progress which is giving me a bit
of a hard time, since initially it was supposed to be
funny, and now seems to have ended up more on the melancholy or
reflexive side. ( I wish, though, that it had come out more
humorous, because I swear that would better
reflect my state of spirit on these matters, these days...)

It Takes Two to Tango

Avenida 18 de julio
y suave la entrada del invierno
en Montevideo

we take in the evening
you, chain smoking in the crisp air
me, unbuttoning the grey wool jacket,
the unexpected warmth of the season
and around us, the plaza, the couples

sliding so ever-so gently
to the long, sweet chords
such perfect synchrony
if only through the tender beats of
the evening, as long as the dance goes on.

Stubborn girl, crazy boy.
It could be that everyone finds their rhythm,
or their moment – to samba or salsa,
to dance the waltz or rock n’ roll
and i think if i could master the movements
i´d choose forró -
which like the tango must be danced
in pairs, but is quicker and makes you laugh
at the parting, or losing the beat

yet tonight in Montevideo
there is music floating around us
with a penchant for tragedy
and they tell us, this is a city
of the old, and a grandfather
pulls his granddaughter gently by the hand
and like me she cannot
master the beat and the steps
as time spills messily around us,
as if that were the formula - a life
unfolding always in pairs, a language
of complicity or duplicity,
in which i am only falsely fluent.

what grabs you more?
is it tragic or comic,
together, apart?
the dancing ends early here,
but there is still Malena, singing
into the night of this city of old.

my choice, perhaps, should be
the pampas,
solitary ride under moonlit dome
or moving with the throngs,
just one more in a galloping herd
where if i lose the rhythm,
fall out of synch, don´t
deliver the goods
no one will notice:
no cruel duels,
no emptied side of the
bed or the closet,
and we can just go on with our lives
under the stars
of this planet
of billions