sábado, 21 de janeiro de 2017

manhã



fiz as perguntas necessárias.
a solidão é uma cerejeira, e o fruto,
possível.  como você, amo as vozes
da rua, mas já se calaram. na labuta
 diária contra a toxina lenta,  imagem
que procura espelho.  não é  mais a minha
beleza, nem a tua. o tempo se encarregou disso,
as nuvens dos desastres nucleares, ou
o perfurar abrupto de armas comuns.
as pessoas com seus pequenos potes
de veneno, também.  é com o mínimo
que nos contentamos:  o pão ainda fresquinho,
uma ameixa que conseguimos colher, a cabeça
do cachorro contra minhas canelas. talvez
continuemos.  mas não são mais
os barcos que se afundam.

Mais um poema de Rachida Madani (Tangier, 1951)

  Você não veio ao mundo para ver os seus ossos embranquecerem nas águas brancas de um rio Bou-reg-reg nem para contemplar a sua som...