quinta-feira, 28 de maio de 2015

                               

                                imagem:  miriam adelman

sábado, 11 de abril de 2015

Assia Djebar, escritora argelina.



Rascunho da minha primeira tentativa de traduzir um poema de Assia Djebar:

Parágrafos finais do seu livro, Vaste est la prison, traduzidos a partir da versão em
língua inglesa de Betsy Wing.
(“The blood of writing – final”. )
O sangue do escrever – final.

Como inscrever com sangue que flui ou que acaba de fluir?
Com o cheiro, talvez
Com o vômito ou o catarro, facilmente.
Com o medo que constitui seu halo.
Escrever, é claro, mesmo um romance...
Sobre a fuga.
Sobre a vergonha.
Mas com o sangue: seu fluir, sua textura, seu jorro , sua casca que ainda não secou?
Pois é, como conseguiria falar de você, Argélia?
E se um dia eu cair, dando passos para atrás por sobre o buraco?
Me deixe, derrubada para trás, mas com os olhos abertos.
Também não me coloque em baixo da terra ou no fundo de um poço que secou.
Em lugar disso, n’água.
Ou nas folhas do vento.
Que possa continuar contemplando o céu da noite.
Sentindo o cheiro da grama que mexe.
Sorrindo nos raios de cada risada.
Vivendo, com meus pés que dançam indo primeiro.
Apodrecendo suavemente.
Para mim o sangue é cinza branca.
É o silêncio.
É o arrependimento.
O sangue não seca. Simplesmente evapora.
Não chamo você de mãe, Argélia amarga.
Isso o escreva,
Isso o choro, voz, mão, olho.
O olho que na língua de nossas mulheres é uma fonte.
Teu olho dentro de mim, fujo de você, esqueço você, Ô avó de tempos desaparecidos!
Contudo, na tua esteira,
‘Fugitiva e nem o sabia”, dizia de mim mesma.
E a partir daí, fugitiva e sabendo disso.
O caminho de toda migração é fuga.
Sequestro sem sequestrador.
Nenhum ponto final no horizonte,
Apagando dentro de mim cada ponto de partida.
A origem some.
Mesmo o novo começo.
Fugitiva que o percebe na metade da fuga.
Que escreve para pôr cerco à perseguição sem fim.
O círculo que cada passo abre, fecha de novo.
Mortes para frente, o antílope cercado.
Argélia a caçadora, engolida em mim.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Só quis...

Só quis estar no mundo.
Era muito simples.
Ouvir muitas línguas,
Olhar nos olhos
Pegar um trem ou andar no vento,
Ou  até num grande navio que
Se navegasse para uma ilha
de promessas cor esmeralda, eu ia
mas se afundasse, também ia
afundar-me junto com os outros,
para quê um solitário
   destino
 de sobrevivente?
Algum segredo procurava
Mas sabia que eram todos mentira,
Que a chave era apenas o mais simples
Repetido de outra maneira
Com ar de interessante ou triste
Como  passar uns dias de pão e água.
Qual a raiz e o quê é superfluo?
Há apenas a busca, apenas a esperança
Que o gesto conte.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Fresco


she called out for father
but it was mother who came.

the walls of the city had been painted
blood red.
 scenes of destruction were everywhere,
  and families  indulging
   their last supper, a field strewn
  with wine goblets, plates broken,  
  bones of boar and quail.
  (this was before they invented
        perspective.)
lastly a vision,
a dark coiling corridor
and a single atrium,
  splattered in
light

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

lost in translation

not really a poet
this girl
          caught
between languages
and  caught
                    também
 in a speeding car
 winding down
      every now
            and then
for a closer take
on the landscape.

what a life loses
  or gains
in translation,

that
   is
     the
         question...


pas vraiment une poète,
cette fille
prise
entre des langues
et prise
    também

dans une voiture
qui roule trop vite
qui ralentit de temps en temps,
pour qu’elle puisse capturer
un peu de paysage.

Ce que la vie perd ou gagne en traduction,
voilà la question



 

Mais um poema de Rachida Madani (Tangier, 1951)

  Você não veio ao mundo para ver os seus ossos embranquecerem nas águas brancas de um rio Bou-reg-reg nem para contemplar a sua som...