segunda-feira, 25 de abril de 2016

Traduzindo Li-young Lee

With ruins/ Com ruínas.

    Li-young Lee

Choose a quiet
place, a ruins, a house no more
a house,
under whose stone archway I stood
one day to duck the rain.

The roofless floor, vertical
studs, eight wood columns
supporting nothing,
two staircases careening to nowhere, all
make it seem

a sketch, notes to a house, a three-
dimensional grid negotiating
absences,
an idea
receding into indefinite rain,

or else that idea
emerging, skeletal
against the hammered sky, a
human thing, scoured, seen clean
through from here to an iron heaven.

A place where things
were said and done,
there you can remember
what you need to
remember.  Melancholy is useful.  Bring yours.

There are no neighbors to wonder
who you are,
what you might be doing
walking there,
stopping now and then

to touch a crumbling brick
or stand in a doorway
framed by the day.
No one has to know
you think of another doorway

that framed the rain or news of war
depending on which way you faced.
You think of sea-roads and earth-roads
you traveled once, and always
in the same direction: away.

You think
of a woman, a favorite
dress, your old father's breasts
the last time you saw him, his breath
brief, the leaf

you've torn from  a vine and which you hold now
to your cheek like a train ticket
or a piece of cloth, a little hand or a blade -
it all depends
on the course of your memory.

It's a place
for those who own no place
to correspond to ruins in the soul.
It´s mine.
It's all yours


Escolha um lugar
calmo, uma ruína, uma casa que
não é mais casa,
sob cujo arco de pedra parei
um dia para me esquivar da chuva

O chão sem teto, rebites
verticais, oito colunas de madeira
que nada apoiam,
duas escadas que enveredam para lugar
nenhum, que fazem tudo parecer

 um rascunho, apontamentos para uma casa, uma
planilha em três dimensões negociando
ausências,
uma ideia
 recuando para a chuva sem fim

 ou se não,  a ideia
que emerge,  esqueleto
contra um céu martelado, uma
coisa humana, depurada, que se vê
transparente daqui a um  paraíso de ferro.

Um lugar onde coisas
foram ditas e feitas,
onde vc pode lembrar
daquilo que precisa
lembrar. A melancolia é útil. Traga a sua.

Não ha vizinhos para ponderar
quem você é.
o que vc pode estar fazendo
andando por aí,
parando de vez em quando

para tocar um tijolo que se esfarela
ou parar em um umbral
emoldurado pelo dia.
Ninguém precisa saber que
vc pensa em outro umbral

que emoldurava a chuva ou notícias de guerra
dependendo de que lado  encarava
Vc pensa em caminhos de mar e caminhos de terra
que uma vez viajou, e sempre
na mesma direção:  à frente.

Você pensa
em uma mulher, um vestido
preferido,  o peito do teu velho pai
quando o viu pela última vez, seu breve
fôlego,  a folha

que arrancou de uma trepadeira e que agora
aperta contra sua bochecha como um bilhete de
trem, um farrapo, uma mão pequena, uma lâmina -
tudo depende
do percurso da sua memória.

É lugar
para os despossuídos de lugar
para corresponder às ruínas na alma.
É meu.
É tudo seu.

 Tradução:  Miriam Adelman
  Revisão:  Takeshi Ishihara.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

LARANJAIS E CONTOS DE FADAS Diane Wakoski

  A casinha de bonecas de papel, quase invisível no mar de laranjais, iluminado apenas pelas chamas oscilantes de um incêndio de lixo ...