Rascunho da minha primeira tentativa de traduzir um poema de Assia Djebar:
Parágrafos finais do seu livro, Vaste est la prison, traduzidos a partir da versão em
língua inglesa de Betsy Wing.
(“The blood of writing – final”. )
O sangue do escrever – final.
…
Como inscrever com sangue que flui ou que acaba de fluir?
Com o cheiro, talvez
Com o vômito ou o catarro, facilmente.
Com o medo que constitui seu halo.
Escrever, é claro, mesmo um romance...
Sobre a fuga.
Sobre a vergonha.
Mas com o sangue: seu fluir, sua textura, seu jorro , sua casca que ainda não secou?
Pois é, como conseguiria falar de você, Argélia?
E se um dia eu cair, dando passos para atrás por sobre o buraco?
Me deixe, derrubada para trás, mas com os olhos abertos.
Também não me coloque em baixo da terra ou no fundo de um poço que secou.
Em lugar disso, n’água.
Ou nas folhas do vento.
Que possa continuar contemplando o céu da noite.
Sentindo o cheiro da grama que mexe.
Sorrindo nos raios de cada risada.
Vivendo, com meus pés que dançam indo primeiro.
Apodrecendo suavemente.
Para mim o sangue é cinza branca.
É o silêncio.
É o arrependimento.
O sangue não seca. Simplesmente evapora.
Não chamo você de mãe, Argélia amarga.
Isso o escreva,
Isso o choro, voz, mão, olho.
O olho que na língua de nossas mulheres é uma fonte.
Teu olho dentro de mim, fujo de você, esqueço você, Ô avó de tempos desaparecidos!
Contudo, na tua esteira,
‘Fugitiva e nem o sabia”, dizia de mim mesma.
E a partir daí, fugitiva e sabendo disso.
O caminho de toda migração é fuga.
Sequestro sem sequestrador.
Nenhum ponto final no horizonte,
Apagando dentro de mim cada ponto de partida.
A origem some.
Mesmo o novo começo.
Fugitiva que o percebe na metade da fuga.
Que escreve para pôr cerco à perseguição sem fim.
O círculo que cada passo abre, fecha de novo.
Mortes para frente, o antílope cercado.
Argélia a caçadora, engolida em mim.