sexta-feira, 29 de maio de 2009

Um poema de Marcia Cavendish Wanderley

Em meu Quarto


À noite em meu quarto
Ouço a vida escorrer pelas estantes
nos livros cresce uma penugem verde malva
como se fosse musgo
envelhecendo madeiras recém-natas
Mais tarde ele recobrirá nossos lábios
E avançará , em direção à casa
ameaçando seus mais jovens habitantes.
Mesmo aqueles que ainda acreditam
em eternidade.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Depois de tudo"

Uma nova tradução (trabalho em andamento), versão do poema, "After Everything" de Sandra Cisneros (do livro
Loose Woman), feita por mim e por minha colega Marcia Cavendish Wanderley.


É sempre assim
Acabou a bebida em casa
O último cigarro queimando na brasa
E uma alta dose de poesia

Às duas horas da manhã ,já é claro
que tudo vai dar errado
mas lá vou eu assim mesmo
com as artérias encrespadas como artilharia
quando disco uma chamada

Este ou oeste
Central ou pacífico
Chicago, San Antonio , New York

E quando tiver lançado
minhas palavras como pedradas
cortando o ar com minha língua
que
explode esposas
e faz bebês chorarem


quando meus amantes pararem de falar
-você é louca, não grite mais,
dane-se e por favor
fale inglês

E depois de tudo
quando tudo o que é quebrável
for quebrado
somente um silêncio pesado
e o sinal do telefone gemendo
como o meu coração

terça-feira, 19 de maio de 2009

Hoje*

Early in the morning, I catch a train from Barcelona to the town of Mataró, a ride that lasts a little less than an hour (though later a taxi driver who takes me to the outskirts confirms that coming up from the city by car would slash trip time in half ). The women sitting in front of me, one of them nestled asleep in the cushions of her seat, both have very Latin American faces: the sleeping one is dark red-brown with a thin, worn Indian face, the other, a round and middle-aged mulatta. A common sojourn, taking them perhaps from one periphery to another, to their quotidian chores of cleaning or caring or simply keeping afloat.

Heading north along the coast, a still-empty Mediterranean beach stretches out alongside me, and I imagine by the time the breakfast hour has gone by it will be sprinkled with bathers and beach goers. The towns we pass seem almost to repeat the density of the big city we have left behind us, but are not all the same: in one, a reddish brown medieval church spire rises into the morning air; in another, the houses across the road from the railroad tracks have quaint Spanish balconies and weathered wooden shutters and, finally, closer to my destination, become the neat but rather desolate rows of cinderblock constructions that as my new friend reminds me, house immigrants from the Maghreb and sub-Saharan countries lying below. And then, the rise of short green bushes and slender trees as we head by cab through this sparse countryside, toward the equestrian center where I have an interview to carry out. A brief conversation, a half- hour or so spent watching a woman of about my age – a non-practicing veterinarian of about my age who has told me she is the mother of six children – take a riding class, and another, younger, blonde, who exercises a monumental dappled gray . Today, though, nobody tells me anything I don´t already know. Moment of impasse in my work? In my life? To cross an ocean looking for love and change and knowledge, e dar de cara com (a falta de) o desejo do Outro. Or perhaps just more of the same old story: one person´s work is another´s leisure; one person´s pleasure, another’s pain…Again, it seems I cannot avoid handing myself over to the crueler moments of life. O vazio onde esperava a resposta. The stilted choreography of breaking loose. Maybe I didn´t think it would happen again. Maybe not quite this way. I wait, though today rather impatiently, for my ride back to the station.


* Or: "Today I kind of feel like going home..."

domingo, 17 de maio de 2009

Tempo

[um escrito meu - não muito recente]

fabricação de estações que se apressam,
o fino papel das folhagens, a pálida excitação de
mais uma primavera, com suas tulipas e a grama
recém cortada. O tempo é agora meu inimigo
por que é o tempo que te faz virar contra mim, te
apavorar do galope do sentimento. O tempo que joga
atrás de mim seus caminhos, tão longos e populosos
que se te estendesse minha mão e te puxasse, mesmo assim você
viraria a cabeça, as costas. O tempo com sua música alta,
as cordas fortes, e o silêncio do presente onde uma vez
pude te sentir a respiração. Tuas mãos no escuro desse silêncio.

O passado, denso bosque onde nem sonhar em você poderia. A clareira
Onde alguma vez descansei com as minhas irmãs , o sangue das amoras pintando nossas mãos. E as estradas que partiam em todas as direções, mas nunca, nunca para convergir nesta paisagem, neste acidente de encontro. Aqui onde você me amaria se fosse menor, mais imperfeita, mais esvaziada de tempo, de voz mais doce ou bela.

Agora é tua voz que engrossa. Meninas que dobram a esquina para te ver, desejo nos olhos, as mãos estendidas, pedindo tão pouquinho. Fácil é para você: só repetir a mentira, seguir a rota segura da fuga. Eu, aprisionada no cenário do acidente, fuço na minha mochila gasta, alguma prenda para te chamar de volta: umas moedas, um pedacinho de chocolate, uma carícia inesperada.

Deito minha cabeça no teu silêncio, puxo nas cordas do temor.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Prometo...

Não acredito... dia 12 de maio e ainda não postei nada este mês. Mas as viagens ocupam o tempo e a mente com outras intensidades (não digo interrupções). Aqui em Barcelona tive a felicidade de, entre outras coisas, ouvir a fala de duas sociólogas particularmente brilhantes (Arlie Hochschild, dos EUA e Eva Illouz, de Israel) -- no CCCB, ou Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, aliás, um lugar que adoro. Agora estou lendo um livro da primeira e logo pretendo postar uns comentários, suscitados pela leitura e por estar neste lugar onde convergem "outros caminhos". Por outro lado, eu e minha amiga/colega Marcia continuamos com as traduções de Sandra Cisneros, assim que não demorarei muito para postar uma ou duas novas. Só peço um pouquinho de paciência!