terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pessoas comuns...


Sou um homem comum
Com muitos desejos
Meu coração pulsa avesso à Filosofia
Esnobando as matemáticas
Olho o relógio 500 vezes no dia
Eu me debruço sobre fotos antigas
E jogo sal a esmo nas batatas da minha dieta rude
Tenho saudades
E quando não têm elas cura
Eu afago o cão
Até as lágrimas secarem
Nunca ganhei uma bicicleta
Nem viajei de carona pelos Andes
Não subi ao topo do Kilimanjaro
Nem consegui sementes de yukiyanagui
Para meu quintal
(aliás, nunca tive quintal e nem sei se elas vingariam…)
Choro meninos mortos
E desejo que o futuro nos sorria doce
Ouço a voz de poetas mortos
E Danilo Kiš me persegue nas noites solitárias
Mas eu tenho amigos

E ofereço a eles meu coração, minha alma e meu pensamento:
...

        Benedito Costa
  
Mulher comum

              para Benedito Costa
 
Se eu me olhar
ou traçar minha imagem
à luz desse tempo
que tive a sorte ou
o azar de habitar
talvez me descubra apenas
uma mulher comum
com um pé
que se atrapalha
a cada passo,
que chorou pelas batalhas perdidas
antes mesmo delas começarem.
Os filhos vão pro mundo
e o mundo gira sobre a mesma
rota que nos marca como
apenas tão diminutos
com nossas palavras, um
desenho na areia, ou uma mão
dada.  Mas venham, venham sentar
aqui ao meu lado. Sinto o vento
e a noite que não chegou ainda
para nos cobrir
com seu desespero ou
esperança.

   -   Miriam Adelman
         14/09/2014

domingo, 14 de setembro de 2014

Hard Drive/Direção - Hettie Jones




Hard Drive/ Hettie Jones

Saturday the stuffed bears were up again
over the Major Deegan
dancing in the plastic along the bridge rail
under a sky half misty, half blue
and there were white clouds
blowing in from the West

which could have been enough
for one used to pleasure
in small doses

But then later, at sunset,
driving north along the Saw Mill
in the high Wind, with clouds big and drifting
above the road like animals
proud of their pink underbellies,
in a moment of intense light
I saw an Edward Hopper house,
at once so exquisitely light and dark
that I cried, all the way up Route 22
those uncontrollable tears
“as though the body were crying”

and so young women
here’s the dilema
itself the solution:

I have always been at the same time
woman enough to be moved to tears
and man enough
to drive my car in any direction

Direção

No sábado os ursos de pelúcia flutuavam de novo
sobre o Major Deegan
dançando no plástico ao longo do corrimão da ponte
sob um céu meio nublado, meio azul
e havia nuvens brancas
chegando do oeste

o que talvez fosse suficiente
para alguém acostumado ao prazer
em pequenas dosagens

Porém mais tarde ao pôr do sol
dirigindo rumo ao norte pelo Saw Mill
no vento forte, com as nuvens grandes que flutuavam
por sobre a estrada como animais
mostrando orgulhosomente suas rosadas barrigas
num momento de luz intensa
vi uma casa tipo Edward Hopper
tão simultânea e extraordinariamente clara e escura
que eu chorei todo o caminho da Rota 22
aquelas lágrimas incontroláveis
 “como se o corpo chorasse”

e portanto,  mulheres jovens
eis aqui o dilema
em si a solução:

sempre fui ao mesmo tempo
mulher o suficiente para comover-se até o pranto
e homem o suficiente
para pegar o carro e me mandar
em qualquer direção

tradução:  Miriam Adelman

sábado, 13 de setembro de 2014

WORDS by Hettie Jones

WORDS

are keys
    or stanchions
or stones

I give you my word
You pocket it
and keep the change

Here is a word on
the tip of my tongue: love

I hold it close
though it dreams of leaving

   - Hettie Jones (from her first book, DRIVE)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Contingencies




Contingencies

Sometimes a slight slouch
ruins everything.  Or the place
where  mottled light filters
 through an otherwise perfect
moment.  Other times, however
it is not a matter of detail.  You need
no lens, no microscope, for the forest
is afire in your face,  the
botched plans  lurking there
from the start, and everyone knew
it:  the teacher,  the mailman,  
the street sweeper
and you.
  or maybe you didn´t:
foolish girl,  never bothering to learn
the  formulae, and  being, by nature,  
so impatient.

-   Miriam Adelman

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Belly Dancer/ Dança do Ventre -Diane Wakoski



Belly Dancer
By Diane Wakoski


Can these movements which move themselves
be the substance of my attraction?
Where does this thin green silk come from that covers my body?
Surely any woman wearing such fabrics
would move her body just to feel them touching every part of her.

Yet most of the women frown, or look away, or laugh stiffly.
They are afraid of these materials and these movements
in some way.
The psychologists would say they are afraid of themselves, somehow.
Perhaps awakening too much desire—
that their men could never satisfy?
So they keep themselves laced and buttoned and made up
in hopes that the framework will keep them stiff enough not to feel
the whole register.
In hopes that they will not have to experience that unquenchable
desire for rhythm and contact.

If a snake glided across this floor
most of them would faint or shrink away.
Yet that movement could be their own.
That smooth movement frightens them—
awakening ancestors and relatives to the tips of the arms and toes.

So my bare feet
and my thin green silks
my bells and finger cymbals
offend them—frighten their old-young bodies.
While the men simper and leer—
glad for the vicarious experience and exercise.
They do not realize how I scorn them;
or how I dance for their frightened,
unawakened, sweet
women.


Dança do Ventre.

Podem estes movimentos que se impulsionam
ser a substância da minha atração?
De onde vem esta fina seda verde que cobre meu corpo?
Certeza qualquer mulher que vestisse semelhante tecido
movimentaria seu corpo só para sentí-lo tocar cada parte dela

 
Mas as mulheres aqui franzem a testa, desviam o olhar, dão risada nervosa.
Elas têm medo dos materiais e dos movimentos
por algum motivo.
Os psicólogos diriam que têm medo delas mesmas, de alguma maneira.
Talvez por despertar desejo em excesso -
algo que seus homens nunca poderão satisfazer?
Por isso se cobrem e se abotoam e mantém a pose
torcendo que o modelo as impeça de sentir
o registro completo.
torcendo que não terão que experimentar aquele insaciável
desejo de ritmo e de toque.

 
Se neste momento uma cobra deslizasse pelo chão
elas, na maioria, desmaiaria ou se encolheria
Mas esse mesmo movimento poderia ser delasAquele movimento suave que as assusta,
acordando seus ancestrais, seus parentes até a ponta do braços e os dedos dos pés.

 
É por isso que meus pés descalços
e minha fina seda verde
meus sinos e minhas castanholas
as ofendem, assustam seus jovens corpos velhos
Enquanto os homens sorriem e babam-
gratos pela experiência e o exercício vicário.
Eles não percebem o quanto os desprezo
nem como eu danço para suas
doces, desacordadas
mulheres.


tradução:  Miriam Adelman