sexta-feira, 24 de outubro de 2014

lost in translation

not really a poet
this girl
          caught
between languages
and  caught
                    também
 in a speeding car
 winding down
      every now
            and then
for a closer take
on the landscape.

what a life loses
  or gains
in translation,

that
   is
     the
         question...


pas vraiment une poète,
cette fille
prise
entre des langues
et prise
    também

dans une voiture
qui roule trop vite
qui ralentit de temps en temps,
pour qu’elle puisse capturer
un peu de paysage.

Ce que la vie perd ou gagne en traduction,
voilà la question



 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Words/Palavras by Hettie Jones



Palavras
    são chaves
ou suportes
    ou pedras

Te dou minha palavra
Você a embolsa
e fica com os trocados

Eis aqui a palavra
na ponta da minha língua: amor

Eu lhe dou abrigo
 ela sonha ir embora

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Fábula III, ou “as formas da coragem”.

Fábula III, ou “as formas da coragem”.

                    Para Joyce, Hettie e Diane.  E para Andressa tb.

Era apenas uma menina
e o mundo, um lugar abarrotado
de criaturas com sonhos baratos.
Pegava todos os dias, de manhã
o bonde que descia a ladeira,
seu coração dando saltos no ponto
     onde a curva sugeria uma fuga
onde a mão do condutor podia
vacilar por um instante e perder
o rumo.

Noitezinha, na hora da sopa
a mãe chamava
para ela colocar na mesa
os pratos azuis, os guardanapos de pano
amarelados, as grandes colheres,
e ela obedecia,
mansinha, as unhas de esmalte
     de uma semana
guardando seu segredo escarlate.

Quando lá fora chovia, como de
   costume, gotas misturando-se com
poeira e através da janela suja 
todas as formas
   alongavam-se, encurtavam-se,
 ela via figuras
dançando na água ou nas chamas
da noite e sabia que
em algum lugar  o caminho bifurcava
e seria seu o rumo que ela conseguisse
vislumbrar quando todo mundo parasse
de lhe falar, de lhe indicar com
as mãos ou apontar com os dedos
o enferrujado dever, ou quando ela
não mais escutasse.

Os meninos pulavam
os vagões do trem ou as
ondas mais altas, e o tempo todo ela
pensava que isso não era para ela
porque não era longe o suficiente
ou  talvez porque ser
   apenas uma triste
                fêmea da espécie
não lhe permitisse um lugar
entre os que desafiavam
os mares, a Bruxa de Novembro
ou o Chinook.  Enquanto isso
os garotos saiam e voltavam à casa.
Ela ouvia suas histórias e percebia
como esticavam suas meia-verdades
sobre a bruma, as baleias, os
adversários com suas espadas,
ou as armas comuns do bandido
         da esquina.
Dançava sozinha frente ao espelho,
  diante de escuros olhos ciganos,
examinando a curva dos seus braços,
o quadril que se alargava,  os
pequenos seios que endureciam sob
   um fino tecido, as pernas que embora
curtas pudessem carregá-la muitas milhas.
Sentia então um estranho tipo
       de medo-coragem
que lhe dizia coisas inteligíveis:
que  poderia dormir ao relento,
 construir um provisório
abrigo, aprender as línguas de
humanos e tigres, ser nômade
como qualquer uma
ou como nenhum outro.

And then she went...



 -   Miriam Adelman