segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Gracias a la vida"...

Com algumas modificações, vai uma crônica que escrevi mais de uma década atrás. Acho que hoje dá para postá-la aqui, agora que eu posso dizer que faz parte das vivências da época da 'minha juventude’ .

Gracias a la vida...

Ele sempre me olhava com esses olhos grandes, escuros meio esverdeados, e me fazia perguntas engraçadas: “Professora, como serão as relações entre os homens e as mulheres no futuro?”, ou “Professora, quero estudar ‘a noite’. Não é alí que as pessoas se procuram, para se acasalarem?” Ou afirmava, outra vez com aquele sorriso, aquele rostro iluminado, “Professora, eu quero estudar essas coisas ... do feminismo!” E olhava para mim de uma forma intensa, acesa, urgente.

Eu comecei o levando na esportiva, quase resistindo, achando que afinal de contas, deveria considerar sua atitude como elogio, como identificação. Era tão bonito ele, mas tão menino, com o andar ainda de pós-adolescente, o tom sempre ingênuo de suas perguntas. Mas continuava a me procurar. E vinha com suas histórias: a ex-namorada, de família rica, que pôs fim à relação com o jovem com poucas chances de se tornar um bom provedor, um bom senhor esposo para uma advogada; o irmão mais velho, que quando tinha quatro anos e ele dois, o empurrou da janela do segundo andar e até hoje o acusa de ser um incompetente que “só estuda para comunista”; a mãe separada que é artista plástica e gosta de inventar teorias “do nada”, o pai que se maravilhava com o menininho que sempre gostava de conversar com todo mundo e que até propiciou sua ida para o Peru, mas com quem já não gosta mais de morar...

Acho que qualquer uma na minha posição poderia começar a se envolver. O será só eu, a eterna carente? Um dia ele me pergunta, “Não entendo quem é que começa o relacionamento, o homem ou a mulher.” E eu aproveito, “Quer dizer, quem que começa, você ou eu?” “É, isso.”

Convido ele para almoçar no dia seguinte, e ele aceita. Chega ao meu escritório até meia hora antes do horário marcado, lindo, o rostro iluminado. Passamos umas horas legais: a conversação, as risadas, animados, felizes. Mas a gente não se toca. Nenhum sinal de aproximação vem de ele, e eu fico morrendo de medo, pois o que é que uma quarentona como eu pode esperar de um rapaz daqueles, qual a liberdade que posso tomar? Qué confusão, penso eu. Eh, menina,, veja só como você gosta de arranjar para você umas belas confusões! E quando quase sem linguagem para isso acho a forma de perguntar, ele me responde como surpreso, que não é nada disso, como se não houvesse nada no caminho para me indicar, como se todas as palavras e olhares dele valessem muito menos que seu peso, seu som, sua textura...Mas eu as ouvi! Eu estava te vendo! Lógico que isso não falo, falo só que tudo bem, não se preocupe, imagine... E me conta a história da menina do curso de geografia, a colega com a qual ele gostava de conversar, como foram no cinema, e depois para a casa dela, e depois para a cama dela, e depois ele, arrependido, está com a menina “o perseguindo” por todo quanto é canto da faculdade...

Como é que eu posso entender essa vida!! No carro, conversamos mais, deixo ele em frente da reitoria, a gente se abraça, sinto o corpo, o calor dele. Estou com uma vontade danada de chorar, mas só digo, “Não se preocupe. Conte comigo” Continuo reto, vou assinar o recibo da tradução, vou buscar o filho, pôr o jantar na mesa, os meninos na cama, o tempo todo com um vazio expandindo-se por dentro.


Depois, esses largos dias na Patagonia, tardes de vento, as montanhas- finalmente vejo a Cordilheira dos Andes! - e eu com sua figura me rondando, eu que não consigo esquecer. Gracias a la vida que me ha dado tanto, cantamos com meus amigos pelos caminhos pedregosos da Carretera Austral. O sul do Chile é tão belo e me faz lembrar outros momentos desta longa vida de menina atrevida. Tá bom, já vivi muito, já sei que “paixão é doença”, ou que, em todo caso, minha própria paixão pela vida continuará sempre sendo maior do que a paixão que pudesse chegar a sentir por qualquer homem. Que todos os homens que conheci intimamente, com uma só exceção, sempre acabavam se mostrando pequenos frente à generosidade de espírito da qual nós mulheres somos capazes. E assim por diante...

O vento varre a Patagonia, bate na noite nas asas da barraca, canta com fúria nas tardes, na casa da Carla e do Enrique, antes da chuva. Em Buenos Aires, ando feliz. Compro mais cds e fitas de música latinoamericana e uma saia vermelha para sair à noite, e quando saimos uns jovens na rua me vêem feliz, e dizem, Mira como esa mujer está hermosa! E eu sei que é minha coragem que é grande e talvez hermosa, que a paixão se apaga e a vida continua, que eu andarei por essas ruas e muitas outras, que amarei muito aos meus amigos e aos meus filhos, e esse enigmático muchacho, talvez muito mais “muchacho” do que enigma, irá já ocupar seu lugar fugaz na minha história. E, é verdade. Gracias a la vida...

domingo, 10 de abril de 2011

new one of mine...

the monkeys


the chattering monkeys have left me speechless -

perched here on a barren limb of silence
i watch them, their nimble dance,
how in their mirth they swing from branch to branch
a tail just as useful as a hand, a foot,
how anger swells and then again joy,
how easy to reconcile, child, mate, the
members of their restless band,
how easy to share, the reddened fruits passing
quickly from paw to paw

i wait and watch from a distant treetop
a makeshift platform that sags underfoot
in the cold of early morning.
the orange African sun is slow in rising
and here in our human order
each gesture so hard to learn,
each glide such peril

domingo, 3 de abril de 2011

Um poema de Lawrence Ferlinghetti

Ainda no aguardo da revisão, disponho aqui uma tradução minha do poema
"Underwear", do poeta norteamericano Lawrence Ferlinghetti (nascido em Nova Iorque, 1919) conhecido integrante da "Geração Beat". Na verdade, lembrei dele- exatamente
deste poema, que uma vez vi traduzido ao espanhol- quando conversava com uma aluna sobre o Ginsberg. Achei um pouco dificil de criar uma versão, mas se funciona (ou se funcionar bem, após a revisão) talvez trabalhe mais um pouco com a obra dele, ainda não tao conhecida por estas bandas...


Roupa íntima


Ontem perdi meu sono
pensando sobre roupa íntima
Alguma vez parou para pensar sobre ela
no abstrato?
Se você cavar mais fundo
pode ficar chocado
A roupa íntima é um problema
para todos
Todos usam
roupa íntima
de um tipo u outro
O Papa usa (eu suponho)
O Governador da Louisiana usa
Eu vi ele na TV
Ele devia estar usando roupa íntima
apertada
do jeito que se retorcia
A roupa íntima pode te deixar no aperto
Você já viu os anúncios
roupa íntima para homens e mulheres
tão parecida embora tão diferente
A das mulheres, para não deixar cair
A das homens, para não deixar subir
A roupa íntima é uma coisa
que homens e mulheres têm em comum
A roupa íntima é tudo o que nos separa
Você já viu os desenhos em três cores
e círculos na virilha
para indicar a costura super forte
e o triplo stretch
que promete plena liberdade de ação?
Não se decepcione
Tudo se baseia no sistema bi- partidário
que não deixa muita liberdade de expressão
do jeito que as coisas são
América na sua roupa íntima
luta ao longo da noite
A roupa íntima controla tudo no final
As vestimentas de base, por exemplo
São na verdade formas fascistas
do governo clandestino
para fazer acreditar em qualquer coisa
que não seja a verdade
te dizendo o que pode o que não pode
Já tentou se livrar do espartilho?
Talvez a ação não violenta seja
a única solução
Por acaso Gandhi usava espartilho ?
E Lady MacBeth usaria um?
Terá sido por isso que o MacBeth
pôs fim ao sono?

E esse lugar que ela constantemente esfregava
Era realmente sua roupa íntima?
As damas anglo saxônicas modernas
deveriam ter enormes complexos de culpa
sempre esfregando e esfregando e esfregando
essa mancha danada
A roupa íntima manchada levanta suspeitas
A roupa íntima encobrindo vultos escandaliza
A roupa íntima no varal, uma grande bandeira de liberdade
Alguém deve ter fugido de sua roupa íntima
Talvez esteja nu em algum lugar
Socorro!
Mas nem se preocupe
Todos continuam muito obcecados
Não haverá revolução
A poesia será ainda a roupa íntima
d’alma
A roupa íntima encobrindo
uma multidão de falhas

no sentido geológico –
estranhas pedras sedimentadas, rachaduras inescrutáveis!
Se eu fosse você eu guardaria
uma ceroula de inverno num tamanho maior
Não entraria despido para a noite boa -
Por enquanto
Ficaria calma, quentinha, confortável
Para que excitar-se precocemente
‘para Nada’?
Avance com dignidade
com domínio
não se emocione
a morte estará afastada
temos muito tempo pela frente ainda
minha querida
não somos ainda jovens e fáceis?
não grite