domingo, 3 de abril de 2011

Um poema de Lawrence Ferlinghetti

Ainda no aguardo da revisão, disponho aqui uma tradução minha do poema
"Underwear", do poeta norteamericano Lawrence Ferlinghetti (nascido em Nova Iorque, 1919) conhecido integrante da "Geração Beat". Na verdade, lembrei dele- exatamente
deste poema, que uma vez vi traduzido ao espanhol- quando conversava com uma aluna sobre o Ginsberg. Achei um pouco dificil de criar uma versão, mas se funciona (ou se funcionar bem, após a revisão) talvez trabalhe mais um pouco com a obra dele, ainda não tao conhecida por estas bandas...


Roupa íntima


Ontem perdi meu sono
pensando sobre roupa íntima
Alguma vez parou para pensar sobre ela
no abstrato?
Se você cavar mais fundo
pode ficar chocado
A roupa íntima é um problema
para todos
Todos usam
roupa íntima
de um tipo u outro
O Papa usa (eu suponho)
O Governador da Louisiana usa
Eu vi ele na TV
Ele devia estar usando roupa íntima
apertada
do jeito que se retorcia
A roupa íntima pode te deixar no aperto
Você já viu os anúncios
roupa íntima para homens e mulheres
tão parecida embora tão diferente
A das mulheres, para não deixar cair
A das homens, para não deixar subir
A roupa íntima é uma coisa
que homens e mulheres têm em comum
A roupa íntima é tudo o que nos separa
Você já viu os desenhos em três cores
e círculos na virilha
para indicar a costura super forte
e o triplo stretch
que promete plena liberdade de ação?
Não se decepcione
Tudo se baseia no sistema bi- partidário
que não deixa muita liberdade de expressão
do jeito que as coisas são
América na sua roupa íntima
luta ao longo da noite
A roupa íntima controla tudo no final
As vestimentas de base, por exemplo
São na verdade formas fascistas
do governo clandestino
para fazer acreditar em qualquer coisa
que não seja a verdade
te dizendo o que pode o que não pode
Já tentou se livrar do espartilho?
Talvez a ação não violenta seja
a única solução
Por acaso Gandhi usava espartilho ?
E Lady MacBeth usaria um?
Terá sido por isso que o MacBeth
pôs fim ao sono?

E esse lugar que ela constantemente esfregava
Era realmente sua roupa íntima?
As damas anglo saxônicas modernas
deveriam ter enormes complexos de culpa
sempre esfregando e esfregando e esfregando
essa mancha danada
A roupa íntima manchada levanta suspeitas
A roupa íntima encobrindo vultos escandaliza
A roupa íntima no varal, uma grande bandeira de liberdade
Alguém deve ter fugido de sua roupa íntima
Talvez esteja nu em algum lugar
Socorro!
Mas nem se preocupe
Todos continuam muito obcecados
Não haverá revolução
A poesia será ainda a roupa íntima
d’alma
A roupa íntima encobrindo
uma multidão de falhas

no sentido geológico –
estranhas pedras sedimentadas, rachaduras inescrutáveis!
Se eu fosse você eu guardaria
uma ceroula de inverno num tamanho maior
Não entraria despido para a noite boa -
Por enquanto
Ficaria calma, quentinha, confortável
Para que excitar-se precocemente
‘para Nada’?
Avance com dignidade
com domínio
não se emocione
a morte estará afastada
temos muito tempo pela frente ainda
minha querida
não somos ainda jovens e fáceis?
não grite

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LARANJAIS E CONTOS DE FADAS Diane Wakoski

  A casinha de bonecas de papel, quase invisível no mar de laranjais, iluminado apenas pelas chamas oscilantes de um incêndio de lixo ...