segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um poema de Diane di Prima

Amiga dos "grandes nomes" da geração Beat e escritora de poesia e prosa,
a Diane di Prima merece ser mais conhecida por aqui também. Vai, pois,
a minha primeira e pequena contribuição nesse sentido:

Carta Revolucionária #1
(Revolutionary Letter #1)

Acabo de perceber que o que está em jogo sou eu
Não tenho outra moeda de resgate, nada para
quebrar ou trocar, a não ser minha vida
meu espírito parcelado, em fragmentos, esparramado sobre
a mesa de roulette, eu recupero o que posso
só isso para enfiar embaixo do nariz do maitre de jeu
só isso para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
só tenho minha pele para oferecer, para fazer minha jogada
com esta cabeça imediata, com aquilo que inventa, é a minha vez
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, e sempre pisando
(assim esperamos) nas entrelinhas

Diane di Prima
versão: Miriam Adelman

As mulheres escritoras da Geração Beat

Passagem que traduzi, do livro de memórias de uma escritora do círculo dos Beat:

"Eu vejo a garota Joyce Glassmann, vinte e dois anos, com o cabelo comprido passando dos ombros, vestida tudo de preto como Masha no livro A Gaivota – meia calça preta, camisa preta, blusa preta- mas à diferença da Masha, ela não está de luto por sua vida. Nem poderia, nessa cadeira na mesa no exato centro do universo, este lugar de meia noite onde tanta coisa converge, o único lugar na América que está vivo. Como fêmea, não pertence completamente a esta convergência. Um fato que ela ignora, sentada na sua excitação enquanto as vozes dos homens, sempre dos homens, sobem e descem de tom apaixonadamente, e seus copos de cerveja acumulam,e a fumaça dos seus cigarros sobe rumo ao teto e seguramente a cultura morta está despertando. Simplesmente estar nesse lugar, isso em si - ela o diz a se mesma- é suficiente".


de: Minor Characters, de Joyce Johnson

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mother's Day, 2011.

A new one of mine,after watching Claire Denis' film,
White Material. And thinking about all of us mothers,
and especially, mothers of sons...

(But let there be no room for doubt: my sons know where
they stand on this one. And can´t let mother's day
talk go by without thanking them for whom they have become!)

 First revision:  December  12, 2023

Mother’s Day  (A. T., 2011)

 

.

My mare and I climb
the last dirt road of the

outskirts, past the smokey lot
where some boys at their

half toothless end of childhood

wave at me.  A wisecrack or two,

they return to business    fanning debris

into flame:       a red t-shirt,  

coke bottles, milk cartons,

little plastic pools forming

over layers of stone and broken

asphalt. We meander the hill

         to its apex        to the boulder

overlooking this little top of the world

a place where it seems we are truly alone,

just Madja and I     her small ears

flicking backward to capture my voice,

forward again for the perfect canter,

the sandy trail coiling around a wall of stone
and pine trees split open near the root,

and no more than a rein on a halter

to tether our bond.

Return through the village,
my mare dances in careful steps
over hardened sandstone.
One tiny hoof at a time
           she is protecting me
and the foal to be born
when the seasons shift
when the moon changes.

The boys in turn have run off

elsewhere    leaving   
their wrinkled pile of rubble

 the muddy mutts who yap
         underfoot
and the senhoras, who pause in

the yellow winter sun to chat while

arranging their trash bags for pick up.
A girl with baby in arms, is it
              hers?
In last night’s film,
a mother whose son
went up in flame    is
history taking its course as
 on all those days we can do nothing
      to stop it.
We take stony roads     sandy paths

or follow the course of the flood
to the top or the bottom of the world.
Wastelands are burning on both sides.
And no use trying to stop the boys
once they’ve gone awry.

 



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Traduzindo...

Nestes dias, li uma fala de um escritor argentino (preciso lembrar
seu nome!) que disse que traduzir alguém é se apaixonar por suas palavras (ou
melhor dito , escolhemos traduzir alguém por estarem apaixonad@s
por suas palavras). Needless to say, amei essa frase.

Bom, hoje vai um poema de um poeta novo para mim, Tony Hoagland
(nascido nos EUA em 1953), dica repassada por minhas irmãs.
Este poema dele -versão ainda não revista por nenhuma das minhas
revisoras amigas-, deve ser seu diálogo com o maravilhoso America de Ginsberg (e também, com o "Supermarket em
California", um dos meus poemas preferidos, de todos os
poetas em todos os tempos):

América
Tony Hoagland

E daí um dos meus alunos com o cabelo azul e um piercing na língua
Me disse que a América é para ele uma prisão de segurança máxima

Seus muros feitos de RadioShacks e Burger Kings e episódios da MTV
Onde programas e comerciais se confundem

E enquanto eu pondero como lhe dizer que ele só fala merda
Ele relata que mesmo quando vai rumo ao shopping
no seu Isuzu

Trooper com seu bando de amigos, a música rap
derramando sobre eles
Como uma hidromassagem fervente cheia de martelos de metalúrgico,
mesmo nesse então

Ele se sente enterrado vivo, preso e asfixiado nas dobras
Do volumoso edredom de seda da América

E eu me pergunto se é esta uma legítima categoria de dor
Ou só enrolação para granjear uma boa nota

E daí eu lembro que quando eu apunhalei meu pai ontem no meu sonho
Não era sangue senão dinheiro

Que jorrava dele, resplandecentes notas verdes de cem dólares
Que saiam das suas feridas – e é esta a parte estranha -,

Que ele arfava “ Graças a Deus – esses Ben Franklins estavam
Entupindo meu coração –

Assim eu morro tranqüilamente
Liberado daquilo que me impedia minha liberdade”

E foi nesse momento que eu percebi que era sonho, porque meu pai
Nunca ia me falar em estrofes rimados,

E eu olho para esse aluno com seu acne e seu telefone celular
e sua roupa de vileiro falso
E eu penso “Eu também estou na América dormindo

E também não sei como fazer para acordar”
E daí eu lembro o que o Marx falou perto do final da sua vida:

“Eu estava ouvindo os gritos do passado
Quando devia estar escutando os gritos do futuro”

Mas como ele ia imaginar os cem canais de tv a cabo 24 horas
Ou que tipo de pesadelo seria

Quando todos os dias você assiste passar os rios coloridos de mercadorias
E você boiando no teu barco de prazer neste rio

Mesmo enquanto os outros se afogam embaixo de você
E você vê seus rostos retorcidos na superfície das águas

E a mão que fica aumentando o volume
parece ser a tua?