segunda-feira, 2 de maio de 2011

Traduzindo...

Nestes dias, li uma fala de um escritor argentino (preciso lembrar
seu nome!) que disse que traduzir alguém é se apaixonar por suas palavras (ou
melhor dito , escolhemos traduzir alguém por estarem apaixonad@s
por suas palavras). Needless to say, amei essa frase.

Bom, hoje vai um poema de um poeta novo para mim, Tony Hoagland
(nascido nos EUA em 1953), dica repassada por minhas irmãs.
Este poema dele -versão ainda não revista por nenhuma das minhas
revisoras amigas-, deve ser seu diálogo com o maravilhoso America de Ginsberg (e também, com o "Supermarket em
California", um dos meus poemas preferidos, de todos os
poetas em todos os tempos):

América
Tony Hoagland

E daí um dos meus alunos com o cabelo azul e um piercing na língua
Me disse que a América é para ele uma prisão de segurança máxima

Seus muros feitos de RadioShacks e Burger Kings e episódios da MTV
Onde programas e comerciais se confundem

E enquanto eu pondero como lhe dizer que ele só fala merda
Ele relata que mesmo quando vai rumo ao shopping
no seu Isuzu

Trooper com seu bando de amigos, a música rap
derramando sobre eles
Como uma hidromassagem fervente cheia de martelos de metalúrgico,
mesmo nesse então

Ele se sente enterrado vivo, preso e asfixiado nas dobras
Do volumoso edredom de seda da América

E eu me pergunto se é esta uma legítima categoria de dor
Ou só enrolação para granjear uma boa nota

E daí eu lembro que quando eu apunhalei meu pai ontem no meu sonho
Não era sangue senão dinheiro

Que jorrava dele, resplandecentes notas verdes de cem dólares
Que saiam das suas feridas – e é esta a parte estranha -,

Que ele arfava “ Graças a Deus – esses Ben Franklins estavam
Entupindo meu coração –

Assim eu morro tranqüilamente
Liberado daquilo que me impedia minha liberdade”

E foi nesse momento que eu percebi que era sonho, porque meu pai
Nunca ia me falar em estrofes rimados,

E eu olho para esse aluno com seu acne e seu telefone celular
e sua roupa de vileiro falso
E eu penso “Eu também estou na América dormindo

E também não sei como fazer para acordar”
E daí eu lembro o que o Marx falou perto do final da sua vida:

“Eu estava ouvindo os gritos do passado
Quando devia estar escutando os gritos do futuro”

Mas como ele ia imaginar os cem canais de tv a cabo 24 horas
Ou que tipo de pesadelo seria

Quando todos os dias você assiste passar os rios coloridos de mercadorias
E você boiando no teu barco de prazer neste rio

Mesmo enquanto os outros se afogam embaixo de você
E você vê seus rostos retorcidos na superfície das águas

E a mão que fica aumentando o volume
parece ser a tua?

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