quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O homem que amava os cavalos

 
(Tradução corregida de poema meu, escrito ano passado
em inglês)
 

O homem que amava os cavalos

Ele era basicamente gentil, basicamente meigo.
Chamava os cavalos como só ele podia.
As orelhas do castanho tremiam, o baio arisco
levantava a cabeça, o tordilho vinha a galope
ao seu encontro, uma fina espuminha verde
no focinho. Ele saia na sua montaria
com as primeiras cores do céu da manhã,
seguindo as nuvens de poeira até a pradaria
sua busca sem fim pelos ursos, pelo Lobo
Prateado ou algumas vacas errantes.
Eu morava do outro lado da montanha,
de dia criando poções de milho e cactos,
de tarde, montando minha égua alazã
até a crista de rochas vermelhas, esperando
ser vista. Mas seus olhos fixavam-se sempre
nas colinas, ao longo do inverno ou na
estação dos juncos, ou quando o falcão
voltava por sobre o vale, seu escrutínio
de singular precisão. No começo
minha voz era forte. Eu cantava para ele,
e mais uma vez os cavalos levantavam
as orelhas, sacudiam as crinas embaraçadas,
relinchavam. Ele nunca me escutou. Ele
ouvia cavalos que o chamavam, a batida
dos seus cascos sobre o terreno,
e um longo e lento assobio
que poderia estar vindo
de um lugar qualquer

domingo, 26 de janeiro de 2014

Not quite a poem...


 

'Love will be another day.'  That’s what my horoscope
said yesterday, and I the unbeliever, believe it.
Just like my sister who says, ‘everyone needs  some
magical thinking once in awhile ‘. And so I go back
to packing my boxes of books, weeding out
the ones I know I’ll never read again, sometimes
stopping,  sidetracked by  lines that re-ignite.
I look for jaguar eyes and words so wise I
know they can bring me up the mountain again. 
There’s Hettie and Diane and Joyce, my Beat ladies
whose stories I keep re-reading.  How they shared
wine and dope and nights with the great guys
 'till the road forked forever and ever, making... us!
And then there’s you,  where I see you now, standing
so close to the edge of the cliff I  could almost
 reach out and pull you back.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Puerto Vallarta


(work in progress) 

Para “los muchachos del taller”

i.  gringos y mexicanos.

 El gringo viejo saunters into the hotel lobby
carrying a steaming plate of tacos for the young
receptionist, his love for another
country bleating in the language he
speaks, his slow ear, his stiff tongue
turning melody into a roll of pebbles

 So that must be it:
to love without understanding
or just with whatever
you can understand and
that’s enough.  To walk hardly
bending your knees, to reach out
to whomever will not
turn away.  is that me
he sees now?

ii.

Canadian summers,
Mexican winters, lucky the
ones who can always have
the best of both worlds.

Enfant terrible


enfant terrible

 I wake up with your taste in my mouth.
You wake up across the ocean, in your
    cousin's arms, in her
whirl of black trestles, her shining
Indian skin, just what you'd
always dreamed of.  Dressed up pretty
in all my years, i turn into
the foolish girl, and you with your
    failed road and emptied beer cans,
some kind of Kerouac. I hear you,
             even you
who could never get past the first
few pages, ruthlessly repeating
you never loved me.  And so
life could almost be laughing at
me, with my festering wounds
and my puppy eyes, stuck here while you
ride out onto the beach at dawn with
another, her galloping white mare gone
completely out of control.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Frango transnacional

Frango transnacional (work in progress)

Pós-fato, the white jellified chickens
travel from Brazilian province to Paris, France
in plastic body bags, their unfrozen juices swishing from
side to side with the movement of the sea.
The t.v. program  then shows us the chicks, thousands
of yellow puffs, suddenly bloating breasts
as round as silicone implants, a French
   reporter explaining the costs
and the balding Brazilian manager,
the benefits of crossing this

ocean. We see a cornfield in the
background, but quickly loose the connection
between green husks, yellow kernels and
packaged poultry. Between workers in white
outfits, plastic boots, and a French housewife
- or is she French? – pushing her shopping cart,
and pulling out the numb carcass that will need
more than a heavy sprinkle of cumin, cardamon

  and paprika to return
   to life.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Vida virtual



Desça do preto e branco
ônibus da vida.  Aqui você,
não importa quem for
nem para onde ia, terá seu
lugar para brilhar, aquela foto
a cores que encontrou seu melhor
ângulo, apagou  a inadequada sombra,
e poderá ser visto –
      enquanto a página não rolar
      muito para abaixo, e se
       as configurações permitirem –
por um navegante solitário
em Beijing ou na  Croácia,
esse pequeno sorriso seu que será
para alguém, o mais intrigante
mistério.



Virtual reality

Get off the black and white
bus of life.  Here, you-
whoever you are, wherever you're heading -
can manage a place in the sun,
a color picture that translates
your best angle, wipes out the
shadows. It can be seen
by a lonely navigator in, let's say
Beijing or Croatia - as long as you
needn't scroll down too far, as long as
the setting's enabled -, 
your subtle smile
the quintessence of
mystery.

- Miriam Adelman

domingo, 12 de janeiro de 2014

AVE, Diane di Prima

Versão minha, preliminar, quase rascunho, do poema com que Diane di Prima,
a mais reconhecida das poetas Beat, começa seu livro LOBA.  O poema, pelo que percebo,
é do início dos anos 70. 


Ô minhas irmãs perdidas da lua
arco nos cabelos, o mar embaixo dos  pés, vocês perambulam
com véu azul, folha verde, xale rasgado, perambulam
com a pele de folha de ouro, cabelo incendiado, perambulam
na Avenida A, na Rua Bleecker, perambulam
com coroa de flores,  hálito prateado, perambulam

          pisadas
                 madrepérola brilhante
                        atrás de vocês
                   olhos de pedra lunar
                    onde a lua crescente

com luvas, com chapéu, farrapos, peles, miçanga,
sob a lua minguante, o cabelo escorrendo na chuva preta
uivando com os cães de rua, silvando nas portas
sombras vocês são, projetadas nas encruzilhadas, nas rodovias

 atravessando as ruas na diagonal, perambulam
cuspindo, perambulam
resmungando  e chorando, perambulam
envelhecidas e falando sozinhas
com olhar distraído, perambulam
loucas por uma transa rápida, perambulam
chorando seus mortos, perambulam

    nuas, caminham
    enfaixadas em longos vestidos, caminham
    vestidas de mortalha, caminham
                  andando para trás, caminham

                                         famintas
                                             famintas
                                             famintas

             gritando as escuto
             cantando as escuto
             maldizendo as escuto
             orando as escuto

              vocês deitam com o unicórnio 
vocês deitam com a Naja
vocês deitam na grama seca
vocês deitam com os yéti
vocês giram os longos pintos dos sátiros com suas línguas

 

           armadas estão
           conduzindo carros de guerra vão
           muito mais altas do que eu são
           pequenas são
           acuadas nas ladeiras estão
                fora dos ventos

 grávidas, perambulam
 descalças, perambulam
 espancadas por homens bêbados, perambulam

 vocês matam em mesas de aço
 dão à luz em camas negras
o feto que arrancaram enrijece na neve,
    sobe como uma lua nova
vocês gemem enquanto dormem
 cavando por inhame, perambulam
procurando embriagantes, perambulam
brincando com pássaros, perambulam
entalhando pedra, perambulam

eu ando a noite longa, procurando vocês
eu subo a crista da onda, procurando vocês
eu deito nas pradarias, bato nas cercas de pedra
chamando
seus nomes
vocês são de coral
são de lápis e turquesa
cérebro que se enrosca como uma concha
 vocês dançam nos morros

     usuárias de substâncias pesadas, vocês rodopiam
      dançam nos metrôs
      ocupam os prédios
     as crianças lambendo suas tetas

vocês  são as colinas, o formato e a cor dos planaltos 
são as tendas de pele, as ocas
os vestidos de pele de  búfalo, as colchas, as blusas tricotadas
são as caldeiras e a estrela da noite
que se eleva sobre o mar, cavalgando a escuridão
eu me movo junto, acendo a fogueira noturna
meto minha mão e como sua carne
você minha imagem no espelho, minha irmã
   que desaparece como fumaça na colina nevoada
você que me conduz a cavalo pela floresta de sonhos
grande mãe cigana, deito minha cabeça nas suas costas
sou você
e devo me tornar você
eu fui você
e devo me tornar você
sou sempre você
  devo me tornar você

         ay-a
        ay-a ah
         ay-a
        ay-a-ah ah
         maya ma maya ma
         om star mother ma om
         maya ma ah
 
 
  versão:  Miriam Adelman
  Meus agradecimentos a Alexandra Barcellos e Álvaro Posselt pelas sugestões.

sábado, 11 de janeiro de 2014


My love for the world
is as simple as this calm Saturday
after  the summer rain,
is soft as the soil that
     seeping  so much water
runs red and crumbly  through
 my  hands.

Unread newspaper sprawls the
dining room table,  waylaid by
the scratch of words to
friends stranded half-way
round  this globe.  Evening
spreads its  scant peace
through lingering dusk.  Beyond
the visible  horizon, there are still some
rutted paths,  and reasons
to move on.