sábado, 27 de agosto de 2011

FRAGMENTO TRADUZIDO

Então, vamos lá...

Primeiro trecho (trecho que abre o capítulo 7 pp. 101-102) traduzido do livro de memórias da escritora mais reconhecida da geração Beat, Diane di Prima. Entre mais eu leio dela, e de suas amigas e colegas (as "personagens menores" como foram ironicamente denominadas por uma delas, Joyce Johnson) mais lamento não ter conhecido sua obra antes ... e mais agradecida fico por ter tido o incentivo de começar a conhecê-las agora:


“Quando eu falo, como por vezes faço, com outras pessoas sobre minha vida,quando perguntam, ou tentam descobrir o que significou para mim, naqueles tempos, decidir ser poeta, e daí, na seqüência, pôr isso em prática, agir nesse sentido, muitas vezes me dizem, ‘Ah é, sem dinheiro, mas ganhou fama; a fama precoce deve ter sido uma recompensa’. E eu os olho com estranheza, me perguntando como eles imaginam esses primeiros apartamentos, esses quartos vazios, essas caixas servindo de mesa e cadeira, e finalmente, um neném deitado em algum canto. Fama, eu pergunto tentativamente, tive fama?

O que eu sei é que escolher ser artista: escritor, bailarino, pintor, músico, ator, fotógrafo, escultor, você o diga, escolher ser qualquer um deles nesse mundo em que eu cresci, o mundo dos anos 40 e começo dos anos 50, era fazer a escolha mais completa que havia nesses tempos, viver uma vida de renunciante. Uma vida de sadhu, de santo itinerante, fora do marco das leis dessa cultura particular e peculiar.

Era um mundo em que a religião em si era suspeita, e por bons motivos. 'Religião' como a gente a conhecia, se limitava à modalidade judaico-cristã – ‘Protestante, católico ou judeu?’ nos perguntavam, ao entrar no hospital ou numa escola. E era um mundo que era impossível de aceitar com a consciência tranqüila. Não era aquilo que os liberais dos anos 40 ou 50 gostariam que a gente acreditasse, aquilo que eles tinham sonhado – um mundo onde o progresso era um dado e a sociedade humana em si um valor. Nós artistas renunciantes fora-da-lei – os que seriam renunciantes – não encontravam nela nenhum valor. Nesse impulso de ascender e progredir na América de 1950, onde não existia nada alem do mundo de cada dia, a maneira mais clara de afastar-se do materialismo era direcionar-se às artes.

Ser uma paria, um outsider, era essa a vocação. Nem fama, nem publicação. Manter as mãos limpas, não pertencer. Ao manter-se do lado de fora, a gente sentia que as guerras, as massacres, os erros não eram nossos.

(Me lembro de um jovem imigrante, anarquista, Francisco, um espanhol que como muitas outras pessoas nesses anos após a Segunda Guerra Mundial foi encarcerado, por estar na América sem papéis. Depois o deportaram para a Espanha de Franco, onde em pouco tempo foi assassinado. Mas quando estava na prisão em ou perto de Nova Iorque, as autoridades descobriram que ele era padeiro. Tentaram pôr ele para trabalhar na cozinha. Francisco se recusou, fazendo greve de um homem só. ‘Não farei nada’ ele disse, no seu inglês com forte sotaque, ‘que apóie esta casa’. Era o que todos sentíamos – tornou-se nosso grito de mobilização. E o continuou sendo, muito tempo após a desaparecimento de Francisco.)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FRAGMENTS FROM DIANE DE PRIMA'S MEMOIR, “RECOLLECTIONS OF MY LIFE AS A WOMAN”

Logo traduzirei o trecho:

“When I talk, as I sometimes do, to others about my life, when they ask, or seek to discover what it meant to me to decide back then to be a poet and then as it were follow through, act on it, become ‘A Writer’, they often say, ‘Ah well, no money of course, but the fame, the early fame must have been a recompense’. And I look at them strangely, wondering what they see, how they imagine those early flats, bare rooms, crates for tables and chairs, and eventually a baby in some corner. Fame, I say tentatively, was there fame?

What I do know is that choosing to be an artist: writer, dancer, painter, musician, actor, photographer, sculptor, you name it, choosing to be any of those things in the world I grew up in, the world of the 40s and early 50s, was choosing as completely as possible for those times the life of the renunciant. Life of the wandering sadhu, itinerant saint, outside the confines of the laws of that particular and peculiar culture.

It was a world in which religion itself was suspect, and with good reason. ‘Religion’ as we knew it was limited to the Judeo-Christian mode- ‘Protestant, Catholic or Jew?’ we would be asked on entering a hospital or a school. And it was a world one could not embrace with good conscience. Not what the agnostic liberals of the 40s and 50s would have liked us to believe, what they had dreamed – a world where Progress was a given and human society somehow a good in itself. We outlaw artist renunciants – would-be-renunciants – saw no ‘good’ in it at all. In the striving, get ahead thrust of America 1950, where nothing existed beyond the worlds of the senses, the clearest way to turn from materialism was to turn to the arts.

To be an outcast, outsider was the calling. Not fame, or publication. Keeping one´s hands clean, not engaging. By staying on the outside we felt they weren’t our wars, our murders, our mistakes.

(I remember a young anarchist immigrant, Francisco from Spain, imprisoned as so many were in those years after World War II, for being in America with no papers. Later he was deported to Franco’s Spain, where he was quickly killed. While in prison in or near New York, the authorities, having found out that Francisco was a baker by trade, tried to set him to work in the kitchen. Francisco staged a one-man sit-down strike. ‘I will do nothing’ he said in his thickly-accented English, ‘to support this house’. It was what we all felt – it became a rallying cry. And remained so, long after Francisco was no more.)”