domingo, 17 de maio de 2009

Tempo

[um escrito meu - não muito recente]

fabricação de estações que se apressam,
o fino papel das folhagens, a pálida excitação de
mais uma primavera, com suas tulipas e a grama
recém cortada. O tempo é agora meu inimigo
por que é o tempo que te faz virar contra mim, te
apavorar do galope do sentimento. O tempo que joga
atrás de mim seus caminhos, tão longos e populosos
que se te estendesse minha mão e te puxasse, mesmo assim você
viraria a cabeça, as costas. O tempo com sua música alta,
as cordas fortes, e o silêncio do presente onde uma vez
pude te sentir a respiração. Tuas mãos no escuro desse silêncio.

O passado, denso bosque onde nem sonhar em você poderia. A clareira
Onde alguma vez descansei com as minhas irmãs , o sangue das amoras pintando nossas mãos. E as estradas que partiam em todas as direções, mas nunca, nunca para convergir nesta paisagem, neste acidente de encontro. Aqui onde você me amaria se fosse menor, mais imperfeita, mais esvaziada de tempo, de voz mais doce ou bela.

Agora é tua voz que engrossa. Meninas que dobram a esquina para te ver, desejo nos olhos, as mãos estendidas, pedindo tão pouquinho. Fácil é para você: só repetir a mentira, seguir a rota segura da fuga. Eu, aprisionada no cenário do acidente, fuço na minha mochila gasta, alguma prenda para te chamar de volta: umas moedas, um pedacinho de chocolate, uma carícia inesperada.

Deito minha cabeça no teu silêncio, puxo nas cordas do temor.

2 comentários:

  1. Anônimo5/18/2009

    Muito bonito e meio triste...

    Gostei disso "O tempo com sua música alta,
    as cordas fortes"

    Beijos

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  2. Anônimo9/04/2009

    Miriam, queria muito falar contigo.
    me manda um e-mail:

    vania-sandeleia@usp.br

    beijos

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Diário de campo