botas e barreiras
máscaras uniformadas
quem é de outro mundo
quem é do passado
mundo incendiado
não
haverá
nunca
um normal
estamos nas ruínas
corpos
militares
bandeiras
holocaustos
emergências sem fim
a volta dos sonâmbulos
socorro!
inundações
gelos
e
multidões
mãos e dispositivos
fome
floresta
o torvelinho tecnológico
tudo já foi consumido
tudo nos consome
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pés ao sol
costas contra o céu
uma mulher
na
água
no
espelho
na tarde
de outras mãos
mais água
mãos que fecham
os olhos
o dia acaba
e nasce
floresce
sabrina:
ela
tem lente
ela
tem olhos
ela
tem mãos
ela
capta
toda a tristeza
do mundo
e faz brotar
um rio
uma semente
michelle:
ela navega os mares
viaja para o umbigo do
mundo
e volta
ela reconstrói os barcos
que as ondas
e o vento
jogaram contra as rochas
ela vê as cobras que
andam nas rochas
as medusas
ela
escuta as sereias
não precisa ter medo
medo ela não tem
o medo que a outros e
outras
retém
ela peita
sem perder a ternura
jamais.
fernanda:
ela sabe o segredo:
o mundo não é generoso
com as que pensam
enfrentam
não abaixam o olhar
quantos anos leva
construir
das muitas sabedorias
uma ponte?
tem para isso uma
lente, duas mãos, ou
quatro? ela aprende
com a vida
é isso chama-se
coragem
lupe:
ela anda
pelos
corredores
de uma casa finita
ela sai
pro mundo
ela carrega
o peso
do mundo
nas suas
costas
ela molda
o mundo
com as mãos
com os filhos que
grudam nela
com a
simples e repetida palavra
“mãe”
ela abre as mãos para a chuva
colhe as águas
nos abre os olhos