Here you have it again: working on the translation of this text by Fabio Flora*, and hoping to be able to take it to a reading soon!
Com todo o respeito, Chefia:
bem que o Senhor podia aproveitar o domingo de Páscoa, as famílias reunidas, o
clima ensolarado de recomeço e mudança para apertar aquele botão (o reset,
fique bem claro) e reiniciar o sistema. Mais ou menos como Vossa Excelência fez
quando mandou o dilúvio.
Só que desta vez, Patrão, sem
o coxinha do Noé, sem aquela arca ecologicamente incorreta e sem essa de salvar
só os casais héteros de cada espécie. Não pega bem. Não agrega valor ao
Paraíso. Sugestão: deixe apenas três amebas, para ver se de um ménage nasce
coisa melhor que o Homo bolsonaris gentilis – essa criatura que, dizem mas não
acredito, foi feita à Sua imagem e semelhança.
Não me entenda mal,
Eminência: se peço um replay em slow-motion da maior inundação de todos os
tempos – e uma garoa de asteroides junto, só para garantir –, é porque andamos
precisando muito de um reboot. Quem sabe com a página outra vez em branco nós,
e aí incluo Vossa Senhoria, não escrevamos certo finalmente.
Sem tanta linha torta.
Um mundo sem glúten, sem hora
para acordar, sem segundas-feiras, sem celulares nos cinemas, sem livros de
autoajuda, sem frases bregas atribuídas a Clarice ou Machado, sem acento grave
ou vírgula onde não deve, sem fumantes e bebuns, sem juros, sem tomates
superfaturados, sem novelas ruins, sem filmes dublados, sem crise de fígado e
dor de cabeça, sem humoristas sem graça, sem reaças, sem filas, sem hora extra
e serão, sem guerras, sem canções cafonas para promover a paz, sem bandeirinhas
míopes, sem PM de TPM, sem manchetes sensacionalistas, sem bundas de plástico,
peitos de plástico, cérebros de plástico, corações de plástico – sem plástico,
enfim.
Ah, e o mais importante: sem
vergonha de dizer eu te amo durante o expediente.
Mas com vergonha de levar
gaita na cueca, com hora de ninar os filhos, com mais sextas de Carnaval, com celulares que toquem valsa, com mais sonhos
e pés de valsa, com poesia nos muros (se eles insistirem em existir), com
sujeito e predicado vivendo em concordância, com fumantes viciados em cachimbos
da paz, com cerveja amanteigada nos botecos, com juras (de amor), com toda a
horta em promoção, com novelas que valem a pena ver de novo, com filmes franceses
nas periferias, com riso frouxo mesmo depois de um tropeção, com uma horinha a
mais de sono, com o Messi no meu time, com policiais sem pimenta, com jornais
bem-humorados.
E não nos esqueçamos, Vossa
Magnificência, que isto é fundamental: com violinos ao fundo sempre que
disserem eu te amo durante o expediente.
Sem mais por ora, me despeço
aqui, ó Pai de Todos, Fura-Bolo e Mata-Piolho, desejando-Lhe uma Páscoa trufada
de boas intenções e chocolates (sem glúten, lactose e açúcar, cem por cento
cacau; que nem divindade da Sua catiguria pode brincar com o colesterol, o
Tinhoso disfarçado de gordurinha). Tchau e bença.
* Texto
publicado em 2014 no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com/). De lá para cá, permaneceu super atual. (Sem mais comentário...)
With all due respect, dear Chief: perhaps you dear Lord could take advantage of
this Easter Sunday, families gathered round the hearth, the sunny weather of rebirth and change, to press that button (the reset one, make no mistake!) and
restart the whole system. Kind of like what Your Excellence did when you sent out the diluvium.
Only this time, Boss, let's try a go without that bigot, Noah, without that ecologically incorrect ark and that crap
of saving only the hetero couples of each species. It doesn´t go over very well. It adds no
value to Paradise. A suggestion: leave
us just three amoebas, to see if from the ménage we get something better than
that Homo bolsonaris gentilis, that creature that they say - but I don´t believe them - was made in your image and
semblance.
Don't get me wrong, your
Eminence: if I ask for a slow-motion replay of the greatest flood of all times
- and a shower of asteroids together, to take no chances - it is because we are
in dire need of a reboot. Who knows, with a blank page once again , we—and
I include you, dear Lord, in this—can do a better job at the writing. Finally.
Without the crooked lines.
A world without gluten, without a
time to get up, without Mondays, without cell phones ringing at the movies,
without self help books or corny phrases attributed to Clarice or Machado,
without accent marks and commas where they shouldn't be, without smokers or
drunkards, without interest, without overpriced tomatoes, without bad novels,
dubbed movies, bad livers and headaches, dumb comedians, fascists, long
lines, overtime; without wars and corny songs purportedly promoting peace, without myopic
flags, without a military unless
demilitarized, without sensationalistic headlines, plastic butts, plastic tits,
plastic brains, plastic hearts—with no plastic, at all.
Ah and most importantly: to be able to say I
love you, shamelessly, during the work shift. But with shame enough to carry cash in our underwear, to have time to put our kids to bed, to have more Carnival
Fridays, and cell phones that play waltzes, and more dreams and waltzing feet,
and more poetry on the walls (if they don't all crumble), with subjects and
predicates in agreement, more smokers hooked on peace pipes and buttery beer at
the corner-bars, with oaths (of love) and special offers on all the vegetable
gardens, good novels to read and French films showing on the outskirts of town,
to always know how to laugh even after screwing up, and get in an
extra hour of sleep, have Messi on our team, police officers without pepper spray and
newspapers with a hip sense of humor.
And let us not forget, Your Excellence, another essential: violins in the
background every time one says I love you during the work shift.
Since I've gone through the list, for now, let me take
my leave here, oh dear Father of Us All, Milk Spiller and Lice Killer, wishing You
an Easter layered with good intentions and chocolates (no gluten, lactose or
sugar and 100% pure chocolate; as no one of Your stature can play around with cholesterol,
you little sneak)
Bye for now, and god bless...
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