sexta-feira, 30 de março de 2012

“Por onde andará? Sinônimo de se perdeu”.

...Onde andará?

("Onde andará?" é das perguntas mais tristes que conheço,

sinônimo de se perdeu)”.



(Caio Fernando Abreu)

Foi numa quarta-feira bastante ensolarada para o típico de uma cidade como Curitiba, um desses dias em que você se permite uma manhã sem aulas e sonos mais longos. Já era próximo das 11 horas, início dos preparativos para o pontual almoço ao meio-dia, quando de repente alguém bate palmas no pequeno portão branco que dá para a rua. Apressada, enxugo minhas mãos num desses panos que minha mãe insiste em fazer bicos coloridos de crochê, atravesso a sala passando rapidamente os olhos pela TV ligada sem me concentrar na programação do dia. Enfim chego à janela, avistando através dela uma mulher de cabelos curtos um tanto desgrenhados, trajando roupas surradas. Segurava numa das mãos um desses guarda-chuvas pretos e grandes que você compra em qualquer esquina ou na saída do Shopping Center em dias de chuva. “Diga!”, foi à primeira coisa que disse quando a vi. “Preciso devolver esse guarda-chuva pra Sandra, sua vizinha!”. Meio confusa, comecei a puxar pela memória de onde conhecia aquela mulher agitada e de palavras rápidas. Lembrara dela transitando pelo bairro há algumas semanas, sempre conversando com amigos imaginários e pedindo café preto com pão na casa daqueles que seriam meus vizinhos. Pela memória tentei puxar também o nome daqueles que moravam a minha volta, mesmo sem saber quem eram – eu conhecia muito pouco meus vizinhos. “Maria”, o “Pastor Carlos”, “Elisabeth”, e até aquela que veio de Quatiguá… como é mesmo o nome dela? Todos, menos Sandra! Rapidamente, comuniquei a ela que estaria havendo algum engano, que nenhuma vizinha tinha esse nome. Desesperada, começou a estalar os dedos no ar como que numa tentativa de lembrar quem era a tal dona do bendito guarda-chuva. “Letícia!”. “Foi a Letícia… aquela que mora ali em cima!”. Depois de muito insistir “que não”, e ela “que sim”, num gesto de quase bondade peguei o guarda-chuva de sua mão. Com um sorriso de “dever cumprido”, me desejou um bom dia e me disse obrigada. Apressadamente, deixei o objeto motivo dessa pequena - grande confusão perto da soleira da porta da sala e voltei para as panelas, comentando o ocorrido de forma engraçada com minha irmã mais nova que acompanhou nossas falas de dentro de casa. Agora, todos os dias que abro a porta que dá para a rua, me deparo com o grande guarda-chuva, e me pergunto: “por onde andará Letícia?”.

HELOIZE SOUZA MONTOWSKI

Aluna do Curso de Ciências Sociais/UFPR e da disciplina "Oficina de Produção de Textos"

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