quinta-feira, 29 de março de 2012

Uma crônica de Bárbara de Ridder Barros

Com muito orgulho, posto aqui a crônica escrita por minha aluna Barbara de Ridder Barros, um jovem talento.  Ainda falta o título:


É engraçado como as coisas acontecem, e o começo desse meu relato pode até vir a parecer uma coisa fantasiosa, mas o importante é que o que aconteceu, aconteceu exatamente assim. Pois bem, numa tarde de sexta feira eu estava na cozinha de casa preparando cookies de chocolate, e aquele cheiro de baunilha e manteiga cozinhando tomavam conta do ambiente todo. Eu me pegava pensando em coisas aleatórias no turbilhão de assuntos que se manifestavam em minha mente, vez ou outra pensava no que iria escrever para a disciplina da Professora M e não encontrava resposta, aí pensava em quantas calorias eu teria que gastar pra não engordar muito comendo aqueles biscoitos, ou então em como meu cachorro era engraçado saltitando no quintal, e na frequência que os biarticulados passavam pelo tubo da esquina fazendo aquele barulho enorme. Minha irmã estava com os meus primos jogando The Sims na sala, e argumentavam um com o outro que profissão seu bonequinho deveria ter. “Faz ele ser médico. Dá dinheiro”, “Ah, mas não quero estudar muito”, “Então faz ele ser mestre das artes”, “Capaz, tem que aprender violão e pintura”, “Ah, faz polícia então, ou entra pra vida do crime”. Não passou nem um minuto desde que as palavras polícia e crime haviam sido pronunciadas e ouvimos as sirenes, de todos os tipos, era polícia e mais polícia correndo pela via do biarticulado. Sem muita demora, como qualquer pessoa normal, corremos pra sacada espiar a movimentação. Mas aí silêncio, proporcional a uma rua movimentada, claro, tudo parecia ter voltado ao normal e os biarticulados continuaram seu caminho. Só que a vida nunca é normal, e uns cinco minutos depois escutamos um barulho alto demais pra ser comum, olhei pela janela e era inacreditável, ele estava muito, muito baixo, pertinho de mim, o vidro tremia e meu coração bateu forte, os cachorros latiam e as crianças corriam de um lado pro outro, com um sorriso de orelha a orelha que demonstrava mais aflição do que alegria de fato. “Pega a câmera, temos que filmar isso”, corre, corre e todo mundo se perguntando o que estava acontecendo, afinal um helicóptero estava ali, bem na minha frente, quase como se estivesse dando oi. “Eu não sei” eu dizia pros pequeninos que quase arrancavam meu braço de excitação. “Vamos lá embaixo ver Ba, por favor”, “Por favorzinho”. Como eu não podia deixar de estar curiosa mais do que rápido desci as escadas correndo, as mesmas que cinco segundos depois subi porque tinha esquecido os cookies no forno. Lá embaixo era outro mundo, parece que tudo tinha começado muito antes de eu perceber. Na esquina, uma concentração de pessoas e era magnífico observar as expressões em seus rostos. Medo, choque, empolgação e acima de tudo curiosidade. A movimentação era maior do que eu imaginava, pessoas corriam agitadas, outras conversavam em todo canto, nas esquinas, no meio da rua, na sacada de suas casas, provavelmente tentando decifrar o que estava acontecendo. Pela quantidade de viaturas e a presença do helicóptero, parecia o fim dos tempos, com certo exagero claro, mas era o sentimento do momento. Percebi que a polícia havia se aglomerado numa esquina onde tem uma panificadora, que é do primo de primeiro grau do Daniel, o cantor, não que isso faça diferença, mas as pessoas acham legal comprar pão lá. Os burburinhos lançavam ao ar todos os tipos de teorias. “Pra ter tanta polícia deve ter um presunto lá”. (Caso alguém não entenda, queriam falar de pessoas mortas e não de presunto, presunto.) As crianças me pediam pra ir mais perto ver o que era, pra tentar descobrir, e eu queria ir, muito mesmo, só que havia um lado meu que tinha vergonha e medo, vergonha de ser povão e ficar curiosa pra ver confusão, mas a verdade é que sou povão mesmo e tinha que ir lá ver. Já o medo era de ver um dito presunto, não gosto de desgraça sabe como? Um morador disse que não tinha presunto nenhum porque do contrário o rabecão já estaria lá. “O rabecão sempre chega antes que a polícia, mesmo quando ninguém morreu.” Não dava pra argumentar então eu fui, toda faceira querendo saber das coisas que estavam acontecendo. E não demorou muito pra informações chegarem a mim, afinal de contas metade dos meus conhecidos do bairro estavam lá. “Foi assalto a mão armada a um carro e o cara correu e se escondeu no estúdio de tatuagem”, que fica logo em cima da panificadora. “Foi briga de família”. “Uma mulher estava tatuando e o marido dela chegou lá e colocou a arma na cabeça do tatuador”. “Parece que tem um refém lá”. O problema é que as informações não batiam, eu estava confusa e o nervoso começou a tomar conta de mim, queria que tudo se resolvesse, e eu queria saber o que estava rolando, afinal como bolar planos fantasiosos sobre como eu teria agido naquela situação sem informação? Nada aconteceu. Pessoas andavam de um lado pro outro sem rumo. Policiais indo e vindo. Bombeiros, Siate, Samu, todos foram embora. E eu resolvi ir também, ainda sem saber o que tinha acontecido, mas de uma coisa eu sabia, a notícia não tardaria a chegar, minha mãe tem um salão de beleza no bairro, e honestamente, salão de beleza é o melhor lugar pra saber fofocas

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