(dedico estas reflexões a minha 'irmazinha' Nina)
O quê é a liberdade?
Grande tema, que desafia a filosofia, a sociologia e o senso comum. Conquista da sociedade ou do sujeito, ilusão
ou sine qua non do tipo de vida que
queremos viver? Se não pode ser
absoluta, qual então suas formas de negociação, já que podemos tentar conhecer
e viver nosso desejo, mas o desejo do outro sempre nos escapará.
Quando eu era muito jovem demais para realmente entender o
desejo e seus meandros, ouvia pessoas marxistas falar sobre liberdade como “consciência
da necessidade”. E colocá-la, desta
maneira, num horizonte de possibilidades coletivas e históricas (e portanto também,
institucionais) antes do que existenciais.
Posteriormente, sem saber exatamente de onde vinham, vim a conhecer as problematizações
dos existencialistas, nas quais alcançar um estado “não alienado” vinculava-se à possibilidade de transcender,
individualmente, os limites tensos que a sociedade deposita na vida de cada um/a.
Depois, a partir dos meus primeiros encontros com a teoria e
as práticas feministas, entendi que a liberdade se complicava muito quando falada
ou procurada na voz, e na vida, de um sujeito feminino –pela censura, mas principalmente pelo enquadramento social, porque
ser mulher geralmente nos atrela ao desejo do outro de uma forma particular. Passei as próximas décadas lidando com isso,
tentando me decifrar a partir dessa tensão básica, tentando me fazer.
Mas fui uma jovem mulher livre, porque o desejo me empurrava
sempre para novos caminhos e nunca deixei que a falta de compreensão ou as
tentativas de me censurar ou controlar – que não por acaso, muitas vezes vinham
dos mais próximos- me detivessem ou me desviassem, e eu assumia os riscos da
vida e o ônus dos tropeços. Os muitos
tropeços, claro. E principalmente,
porque meu desejo maior sempre foi conhecer, entender, e me unir a outras pessoas que também isso
sentiam. Nada fácil, mas também, algo que eu podia fazer, pois estava, sempre,
ou quase sempre, nas minhas próprias mãos.
E a partir dai, sempre quando um caminho se esgotava, alguma bússola
interior, e alguma energia, tão estranhas quanto pulsantes, me empurravam de
novo em direção a algum novo manancial.