quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Liberdade e desejo

    (dedico estas reflexões a minha 'irmazinha'  Nina)

O quê é a liberdade?  Grande tema, que desafia a filosofia, a sociologia e o senso comum.  Conquista da sociedade ou do sujeito, ilusão ou sine qua non do tipo de vida que queremos viver?  Se não pode ser absoluta, qual então suas formas de negociação, já que podemos tentar conhecer e viver nosso desejo, mas o desejo do outro  sempre nos escapará.

Quando eu era muito jovem demais para realmente entender o desejo e seus meandros, ouvia pessoas marxistas falar sobre liberdade como “consciência da necessidade”.  E colocá-la, desta maneira, num horizonte de possibilidades coletivas e históricas (e portanto também, institucionais) antes do que existenciais.  Posteriormente, sem saber exatamente de onde vinham, vim a conhecer as problematizações dos existencialistas, nas quais alcançar um estado “não alienado” vinculava-se  à possibilidade de transcender, individualmente,  os limites tensos  que a sociedade deposita na vida de cada um/a.

Depois, a partir dos meus primeiros encontros com a teoria e as práticas feministas, entendi que a liberdade se complicava muito quando falada ou procurada na voz, e na vida, de um sujeito feminino –pela censura,  mas principalmente pelo enquadramento social, porque ser mulher geralmente nos atrela ao desejo do outro de uma forma particular.  Passei as próximas décadas lidando com isso, tentando me decifrar a partir dessa tensão básica, tentando me fazer.


Mas fui uma jovem mulher livre, porque o desejo me empurrava sempre para novos caminhos e nunca deixei que a falta de compreensão ou as tentativas de me censurar ou controlar – que não por acaso, muitas vezes vinham dos mais próximos- me detivessem ou me desviassem, e eu assumia os riscos da vida e o ônus dos tropeços.  Os muitos tropeços, claro.  E principalmente, porque meu desejo maior sempre foi conhecer, entender, e me  unir a outras pessoas que também isso sentiam. Nada fácil, mas também, algo que eu podia fazer, pois estava, sempre, ou quase sempre, nas minhas próprias mãos.  E a partir dai, sempre quando um caminho se esgotava, alguma bússola interior, e alguma energia, tão estranhas quanto pulsantes, me empurravam de novo em direção a algum novo manancial. 

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