(wrote it, translated it, working on it...)
A história cotidiana da guerra se esfuma.
Há quem não escutou nem o uivo longínquo dos lobos
quando seu bosque virou toda fumaça e pele humana.
Há quem não sentiu a falta dos tímidos rapazes, os
arrastados
ou mesmo os brabos que se arrependeram quando passou-se
da palavra ao fato. Em certas cidades,
havia quem se dedicasse ao corriqueiro:
ao jogo de baralho na cantina do bairro, ou à visita costumeira
à costureira, pensando ainda no baile, ou nas filhas
debutantes.
Havia, como sempre, quem escondia o escasso alimento
assim como aqueles
que repartiam o último pão, ou colhiam
as maças ainda aninhadas
nos galhos, saindo pelos campos a
distribuir as magras fatias entre as crianças escondidas no
capim ao lado dos trilhos. Nunca saberemos exatamente
quantos:
os perseguidos escondidos no porão, ou na cava
numa noite rebelde, ou num coração refugiado na loucura.
Sempre contavam versões que mudavam: com o sol, a lua,
com a chuva que limpava um pouco do sangue,
dos restos humanos,
as cinzas. Os ossos ficam,
embranquecendo uns tempos sob um verão que sempre volta,
e nunca saberemos dos
nomes, das partidas, somente
que as lições mais urgentes nunca se aprendem. Mais fácil é
alimentar os pequenos
monstros, velar pelas últimas migalhas,
amarrar o pano na
boca das palavras, cultivar aos poucos
apenas uma
aleijada imaginação, que não consegue nem lembrar
nem esquecer.
The daily
underside of war slips away.
There were
those who heard nothing, not even the distant
howl of
wolves when their woods went up in smoke and skin
and those
who missed not even the shy boys, the ones who
were
dragged away, nor the rowdy who wanted to
flee when
word turned to act. In some villages
there were
those who held out in the commonplace:
the card
game at the tavern, the habitual visit to the
dressmaker, reminded of dance halls or debutant
daughters.
There were,
like there always are, those who stashed away
tidbits of
food, or who picked the last apples nestled in branches,
then
slipping away from the fields, handing the thin slices out
to the
children hiding in the grass near the train tracks.
We will
never know the exact numbers: those left
hidden
in attics
or wine cellars, or on some tumultuous
night
or in some
heart that fled into madness. The
stories they told
were
constantly changing: in the sunshine,
under the moon
or when the rain washed away some of the blood,
vestiges, ashes.
The bones however remained a bit longer,
slowly bleaching
in ever-returning summer. And the names
and departures
we cannot ascertain. We know only
that the
most urgent lessons are the ones never learned. Easier it is
to feed our
little ghouls from our hands, hover over the last of
the crumbs,
tie dirty rags around mouths full of words,
nurture slowly but surely a wretched imagination
unable to
remember, unable to forget.