segunda-feira, 9 de março de 2009

Dois poemas de Yehuda Amichai

Duas novas traduções, de poemas do israelense Yehuda Amicha (1924-2000). Nossas versões foram elaboradas em cima das versões traduzidas do hebraico ao inglês por Chana Bloch e Stephen Mitchell (Selected Poetry of Yehuda Amichai, New York, Harper & Row) .


De tres ou quatro numa sala


De três ou quatro numa sala
há sempre um que aguarda ao lado da janela.
Ele deve estar vendo a maldade entre as espinhas
e os incêndios nas colinas.
E como pessoas que saíram de casa inteiras
são devolvidas no final da tarde como moedas pequenas.

De três ou quatro numa sala
há sempre um que aguarda ao lado da janela,
seus escuros cabelos por cima dos seus pensamentos.
E adiante dele, vozes que vagueiam sem mochila,
corações sem provisões, profecias sem água.
pedras grandes que são devolvidas
e permanecem seladas, como cartas que não têm
endereço, ninguém para recebê-las.


Poemas para uma mulher.

1.

Teu corpo é branco como areia
onde nunca brincou criança nenhuma.

Teus olhos são tristes e formosos
como imagens de flores num livro didático.

Teu cabelo solto,
como a fumaça do altar de Caim:

Preciso matar meu irmão.
Meu irmão precisa me matar.


2.

Todos os milagres da Bíblia e todas as lendas
aconteceram entre nós enquanto estávamos juntos.

Na calma colina de Deus
pudemos descansar um pouco.

O vento da matriz soprava para nós em todo lugar
Sempre tínhamos tempo.

3.

Minha vida é triste como o perambular
dos errantes.

Meus pensamentos são viúvas,
minhas chances não casarão nunca,
jamais.

Nossos amores vestem os uniformes dos órfãos
do orfanato.

As bolas de borracha voltam à suas mãos
após bater na parede.

O sol não volta.
Nós dois somos uma ilusão.

4.


A noite toda teus sapatos desabitados
uivavam ao lado da cama.

Tua mão direita alcança desde teu sonho
Teu cabelo estuda “noitês”
de um manual de vento
rasgado.

As cortinas que se movimentam:
embaixadoras de superpotências estrangeiras.

5.

Se você abrir teu casaco,
Terei que dar o dobro de amor.

Se você vestir o chapéu redondo e branco,
Terei que exagerar meu sangue.

Da sala onde você faz amor,
terão que tirar todos os moveis

todas as árvores, todas as montanhas, todos os oceanos.
O mundo é estreito demais.

6.


A lua, aferrolhada com uma corrente,
fica quietinha lá fora.
A lua, aprisionada nos galhos da oliveira
não consegue libertar-se.

A lua de esperanças roliças
roda entre as nuvens.


7.
Quando você sorri
As idéias serias se exaurem.

De noite as montanhas ficam quietas ao teu lado,
de manhã a areia te acompanha os passos até a praia.

Quando você me faz coisas agradáveis,
todas as indústrias pesadas encerram atividades.

8.


As montanhas têm vales
e eu tenho pensamentos.


Estendem -se até a neblina e até
a ausência de estradas.

Atrás da cidade portuária
impunham-se os mastros.

Atrás de mim começa Deus
com cordas e escadas,
com caixas e guinchos,
com sempre e para sempres.

A primavera nos encontrou;
todas as montanhas ao nosso redor
são pesos de pedra
para pesar o quanto amamos.


A grama afiada chorava aos prantos
no nosso esconderijo escuro,
a primavera nos encontrou.


versão: Miriam Adelman e Claudia Borio

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