segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"O Velho Jasão em San José"

Do livro de Diane Wakoski, Jason the Sailor (1993)



(Key, Key, What Bird Sings that Song
?)
(Key, Key, que pássaro canta assim?)

Lá vive ele, entre os chips de computador
e uma grande população vietnamita. Seu nome aparece
em aparelhos de som caríssimos mas eu duvido que seja
a sua
a família proprietária da empresa. Nem sei mais como se sobrevive
com cachorros azuis latindo para a lua. Eu imagino
Stone Key, onde preparam uns caranguejos deliciosos
e penso que poderia dirigir pela longa cadeia dos Keys,
conectadas por pontes que serpenteiam
que me dão alucinações, as grades irrompendo nos meus olhos,
querendo me chamar à água. Mas também me atraem
os lugares onde homens e mulheres se distorcem; como
poderia não aprender sobre imagens
no quarto escuro fotográfico de adolescência
na Califórnia?
Eu pensava que estava procurando a verdade
mas quando a encontrei eu fiquei tão horrorizada
que me encerrei neste quarto no Meio-Oeste
com muitas janelas, nenhuma cortina e sem a chave. Nenhuma
necessidade de sair de novo
para o mundo.
Eu me disfarço
reclamando da idade, ponho minha
máscara de velhinha para obter
credibilidade para minha vida neste quarto. Me protege
dos constrangimentos, as rejeições, os fracassos deludidos
dos encontros sexuais.
É esta uma face
da estória. A outra, a verdade
terrível sobre o que as mulheres perdem
com a idade, os cachorros azuis que latem
para a lua,
– a raiva de Medeia quando Jasão arruma uma jovem –
enquanto os homens continuam suas aventuras;
ele mora em São José com sua esposa
e filhos, provavelmente até netos, e continua
tendo tudo.
As constelações viram,
dois leões nascidos
com apenas umas horas de diferença,
um destino de macho, outro de fêmea.
É esta a chave? A diferença entre duas vidas
que começaram entre as laranjeiras da Califórnia,
as folhas poeirentas contra a fruta dourada.
Ele as possuía, eu as comi.
Pode esta diferença ser a chave
de tantas estórias?

Tradução: Miriam Adelman
Revisão: Sabrina Lopes.


* Na tradução, me vi obrigada a abrir mão do jogo que Wakoski faz com a palavra key – algumas vezes, “chave” (objeto concreto ou metafórico), outras vezes, em referência às pequenas ilhas próximas ao litoral do estado de Florida que levam esse nome. E também empregada de forma auto-referencial, remetendo-se assim à toda a obra da poeta, na qual chave/chaves são um elemento metafórico recorrente (Agradeço a Sabrina por sua acertada insistência neste ponto).

2 comentários:

  1. Suelen Trevizan11/10/2009

    Oi, professora Miriam. Eu sou a aluna de jornalismo que lhe escreveu há cerca de um mês pedindo uma entrevista, lembra-se? Desde então lhe enviei vários e-mails, mas a senhora não respondeu. Talvez tenha ido para a caixa de spam ou sei lá. Gostaria de saber se é possível fazermos a entrevista nesta semana por e-mail ou por MSN. nesse último caso, adicione o meu endereço: sularien@hotmail.com

    A sua participação é realmente muito importante, porque tenho que fechar a matéria já diagramada na página da revista até o final desta semana e, embora eu tenha conversado com outras pesquisadoras do NEG, está faltando falar da questão de esportes, que é a sua especialidade.

    Aguardo ansiosamente resposta.

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  2. ok, vou te acrescentar no msn!

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Diário de campo