Com Lorenzo no Centro do Universo, el Zócalo, Cidade de México
de Sandra Cisneros (do livro "Loose Woman", Vintage Contemporaries, 1995)
Atravessamos duas vezes a rua
por causa dos ratos. Diante de nós,,
o zócalo de noite e a Calle de la Moneda
como num sonho de Canaletto. Esqueça
Canaletto. Esto era real.
E você estava lá, Lorenzo.
A catedral com fumaça nos olhos
ainda subia como um pirâmide após
tantos séculos. Você nomeou os quatro
centros sagrados – Amecameca, Tepeyac and mais
dois que não lembro. Me lembro de você
querida flecha, e como todas as palavras
que eu sabia me abandonaram. Em inglês
e as poucas em espanhol também.
Este é o centro do universo,
eu disse e eu quis dizer. Esta é eternidade.
Neste momento. Agora. E o amor,
esse fio de copal que tanto te apavorou
quando o mencionei,
o amor é eterno, mas o quê a eternidade
tem a ver com amanhã, não sei, compreende?
Não sei se você me acompanhava.
Nem agora, nem naquele momento.
Mas sei o que senti quando botei minha mão
no teu coração, e surgiu aquele beijo,
só isso, desde o centro do universo.
Ou pelo menos, de meu universo.
Lorenzo, é o centro do universo
tão solitário de noite e tão
sobrelotado de dia? Ao meio dia,
a terra me pariu, o metrô se lançando
do túnel. Eu tropeçava nas
canetas Bic bordadas com o logo
do Batman, cabos de extensão
vermelhas, carteiras de vinyl, rosas de
veludo, vendedores de sementes, pedreiros
brilhantes que procuravam trabalho.
Lembro do menino de pés queimados
no colo da mãe,e o cheiro da carne que
fritavam, um prato de isopor grudento,
gorduroso.
De noite fugíamos
da barulheira da praça Garibaldi, os mariachis
que perseguiam os carros ao longo da Avenida Lázaro Cárdenas
correndo atrás da próxima refeição. No La Hermosa Hortênsialuzes brilhando como numa sorveteria,
rostos suados e marcados por suas penas
bebi meu primeiro pulque morno e espumoso como o sêmen.
Na última noite nos despedímos
entre duas ruas com nome de rio.
Eu me atrapalhava com a história
do Borges e sua Delia. Lorenzo,
quando nos encontrarmos de novo,
A qual beira rio? Mas este não era poema.
Somente os mosquitos que picavam
para caralho e um beijo de adeus como
mosquito picando que me deixou com raiva
durante horas. Afinal, não foram séculos
que passaram para a gente se encontrar
ao centro do universo
onde consumamos nosso beijo?
Lorenzo, eu esqueço o que é real,
confundo os detalhes sobre o ocorrido
com aquilo que testemunhei
no meu universo. É assim pra você
também? Mas por um momento
pensei, realmente pensei que
um beijo poderia ser um universo.
Ou sexo. Ou o amor, aquele sapato velho.
Veja. Continuo sem esperança.
Continuo escrevendo poemas para
rapazes bonitos. Uma metade de mim,
novamente viva.. E a outra, desde os bastidores
gritando, Sente-se, palhaça!
Ah, Lorenzo, sou uma tola.
É eternidade ou nada. Comigo é
desse jeito. Mesmo se a eternidade fosse
só um beijo, uma noite, um momento.
E se o amor não for eterno, qual sentido faz?
Se eu tivesse as palavras eu explicaria que
como um homem ama uma mulher antes do amor
e como ele a ama depois, nunca
é igual. Como se separam as duas metades
e não podem voltar a juntar-se.
Não é uma pena?
Você nomeou os centros sagrados mas esqueceu
um – o coração. Você disse que cada vez
que passasse por este zócalo
se lembraria de mim e esse beijo
desde o centro do universo.
Eu me lembro de você, Lorenzo. Está vendo
este zócalo? Se lembre.
("bringing words together") poesia, crônica, fotografia, tradução//poetry, stories, photography, translation ///// /// ©miriamadelman2020 Unauthorized reproduction of material from this blog is expressly prohibited
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
a response...
Just trying out a response to a poem I am translating. But since the translation is not yet ready (waiting for someone to go over it for me!) here goes what I´ve written...for whatever it is worth!
A kind of faithfulness
worse than a whining puppy,
docile as a woolly lamb or a llama
begging for cookies. A kind of
faithfulness that accepts every sort
of betrayal, wears blinkers, puts on
a fresh blindfold to begin the day
and comes back, week after week,
to drink, at the same fountain,
tainted with poison. Years
that don’t teach, don’t cure.
A poison that doesn’t kill,
Just a slow sadness that makes you
Believe you are empty.
A kind of faithfulness
worse than a whining puppy,
docile as a woolly lamb or a llama
begging for cookies. A kind of
faithfulness that accepts every sort
of betrayal, wears blinkers, puts on
a fresh blindfold to begin the day
and comes back, week after week,
to drink, at the same fountain,
tainted with poison. Years
that don’t teach, don’t cure.
A poison that doesn’t kill,
Just a slow sadness that makes you
Believe you are empty.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
“Just like any other tourist....”
A primeira semana no Peru acaba. Acabo me acostumando um pouco com aquilo que num primeiro momento impressiona, esse impacto “do exótico” que tem por trás o cotidiano do@s outr@s – neste caso, muito imbuído do performance que se faz para o turismo, ou como dizem no Brasil, aquilo que se faz “pro inglês ver”... Até por que acontece algo que me traz, rapidamente, de volta para o realismo: viajando entre Puno e
Arequipa de ônibus, num momento de descuido, levam nosso laptop junto com alguns documentos meus! (Depois, horas passadas nas dependências de delegacias e embaixada, vivenciando a burocracia com suas exigências não poucas vezes ridículas e aquele sentimento de culpa que deve ser muito comum quando estas coisas acontecem, tipo que burra que eu fui, porque não tomei mais cuidado, como se não soubesse cuidar das coisas, da vida, como se não soubesse ser viajante, quer dizer, ser... turista!)
Óbvio que o turismo é, entre outros, um dos fenômenos que move o mundo hoje. Indústria como qualquer outra, onde “o lazer de uns é o trabalho de outros”. Lugar onde as identidades são (re) construídas e “consumidas”. Espaço social onde uns procuram “o autêntico”, o diferente, o Outro. (E alguns, apenas se divertir...) Onde achamos o que queremos e por vezes, o que não queremos. Um fenômeno relacionado à procura do que somos através desse Outro, ou seja, aquilo que supostamente não somos. Captado em escritos e diários de viagem fascinantes, ao longo da história , moderna e pré-moderna, e hoje em dia, no cinema, que também promove um imaginário onde as viagens – mesmo quando a estrada não se faz mais a cavalo ou num calhambeque caindo aos pedaços, mesmo quando é tão fácil subir ao avião e pagar a passagem em 10X – são verdadeiros momentos de catarse. (Por isso acho genial a sacada de uma amiga minha, que percebeu o filme de Woody Allen,
Vicki, Cristina, Barcelona, como uma sátira: você viaja, você se relaciona com esse “Outro”, até você sofre, se mete em encrenca, passa cada uma e volta... igual, à vida de sempre, ao “nada mudou” ou ao business as usual...). Assim, como é eu posso narrar o Peru? Mas preciso narrá-lo. Para mostrar para @s outr@s que fui? Para pensar sobre “verdades sociológicas” e compartilhá-las com pessoas que quero e pessoas que não conheço?
Em todo caso, ontem meu filho e eu concordamos que a viagem valeu muito a pena.
Ter, agora em diante, as imagens daquilo que a gente viu, um país de natureza exuberante e cultura milenar, a repetida mistura de riqueza humana e as pobrezas do mundo humano, tão belo e tão mesquinho e cruel. Jurar que vamos voltar, e na próximas, saberemos navegar melhor os desafios e procurar os cantos menos conhecidos. Continuar falando com as pessoas e convidar algumas, as mais especiais, a que nos visitem, na nossa casa, nossa cidade – ou no meu caso, no pais que adotei, ou que me adotou...
Arequipa de ônibus, num momento de descuido, levam nosso laptop junto com alguns documentos meus! (Depois, horas passadas nas dependências de delegacias e embaixada, vivenciando a burocracia com suas exigências não poucas vezes ridículas e aquele sentimento de culpa que deve ser muito comum quando estas coisas acontecem, tipo que burra que eu fui, porque não tomei mais cuidado, como se não soubesse cuidar das coisas, da vida, como se não soubesse ser viajante, quer dizer, ser... turista!)
Óbvio que o turismo é, entre outros, um dos fenômenos que move o mundo hoje. Indústria como qualquer outra, onde “o lazer de uns é o trabalho de outros”. Lugar onde as identidades são (re) construídas e “consumidas”. Espaço social onde uns procuram “o autêntico”, o diferente, o Outro. (E alguns, apenas se divertir...) Onde achamos o que queremos e por vezes, o que não queremos. Um fenômeno relacionado à procura do que somos através desse Outro, ou seja, aquilo que supostamente não somos. Captado em escritos e diários de viagem fascinantes, ao longo da história , moderna e pré-moderna, e hoje em dia, no cinema, que também promove um imaginário onde as viagens – mesmo quando a estrada não se faz mais a cavalo ou num calhambeque caindo aos pedaços, mesmo quando é tão fácil subir ao avião e pagar a passagem em 10X – são verdadeiros momentos de catarse. (Por isso acho genial a sacada de uma amiga minha, que percebeu o filme de Woody Allen,
Vicki, Cristina, Barcelona, como uma sátira: você viaja, você se relaciona com esse “Outro”, até você sofre, se mete em encrenca, passa cada uma e volta... igual, à vida de sempre, ao “nada mudou” ou ao business as usual...). Assim, como é eu posso narrar o Peru? Mas preciso narrá-lo. Para mostrar para @s outr@s que fui? Para pensar sobre “verdades sociológicas” e compartilhá-las com pessoas que quero e pessoas que não conheço?
Em todo caso, ontem meu filho e eu concordamos que a viagem valeu muito a pena.
Ter, agora em diante, as imagens daquilo que a gente viu, um país de natureza exuberante e cultura milenar, a repetida mistura de riqueza humana e as pobrezas do mundo humano, tão belo e tão mesquinho e cruel. Jurar que vamos voltar, e na próximas, saberemos navegar melhor os desafios e procurar os cantos menos conhecidos. Continuar falando com as pessoas e convidar algumas, as mais especiais, a que nos visitem, na nossa casa, nossa cidade – ou no meu caso, no pais que adotei, ou que me adotou...
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Outros rumos...
[primeira parte]
Finalmente, realizo um sonho da minha juventud: uma viagem ao terra dos Incas, ao Peru. A proposta da viagem surge em última hora; na verdade, pensávamos viajar para outro lugar, mais distante, desistimos da ideia – encarar de novo despesas em euro, trocar nosso tão desejado verão, mais uma vez, para o frio do continente europeu, etc. É assim que embarcamos, no final de janeiro, no final das férias que quase se acabam sem romper muito o ritmo costumeiro do trabalho, com passagens obtidas por “milhas TAM” e sem ter tido muito tempo prévio para informarnos ou nos preparar para o que vendrá...
No primeiro dia, vamos navegando as ruas barulhentas de Lima, um trânsito totalmente maluco de carros que parecem empilharse uns sobre outros, motoristas que não param de buzinar, cobradores de ônibus cujo trabalho parece consistir em pular do vêículo a cada quadra, anunciando a rota e chamando o pessoal para subir. Vou conversando com uma dos meus acompanhantes, a Julinha, de nove anos, quem já passou 15 dias nos Estados Unidos, conhece uma boa parte do Brasil – desde o sul e a cidade de São Paulo até as praias e capitais do nordeste brasileiro - e claro, tem assistido filmes e noticieros mostrando incontáveis imagens de todos os cantos do planeta. Por não dizer que antes de embarcar, eu não tinha perdido a oportunidade de falar com ela sobre o Peru, olhando o mapa e fazendo alguma fala, ainda bem “basicão” (afinal, que tanto sabia eu sobre o tema?) da sua história e cultura, tão embebida de raízes indígenas, histórias de resistência, conquista, sobrevivência, miséria... “Julia”, eu pergunto, “isto te lembra àlgum lugar que você já conhece?” Ela fica pensativa uns segundos e logo me responde, “Eu acho que … se parece com a Índia!”
Em Cuzco, ficamos num “Bed and Breakfast” econômico, longe do tão belo centro histórico, num bairro proletário … até a rua onde se localiza chama-se “Avenida Industrial”. Na verdade, os quartos ficam no quarto andar acima da casa dos donos, uma família que trabalha com o turismo. Subimos por uma escada caracol que dá ao andar onde ficam os hóspedes, e desde a qual se sente um leve cheiro de esgoto, pois é, problemas de encanamento. Nossos vizinhos, simpáticos, nos acordam antes da 7 da manhã, conversando e fazendo seu café ou assistindo t.v na área comum que fica de ladinho. Mas logo no mesmo dia, Macchu Picchu o compensa todo – embora inundado por um constante fluxo de turistas (há alguma outra possibilidade?), se conseguiu isolar um pouco o sítio (nada de banheiros e lixeiras lá dentro, só as ruinas e as paisagens inigualáveis, entre os picos das montanhas)- viajamos no tempo, respirando o ar mais puro que jamais sentimos, total admiração por um mundo tão astutamente elaborado a partir de um profundo conhecimento da terra e das estrelas... (como diz outra pequena menina brasileira que descia as escadas de pedra, conversando alegremente com a mãe – “Esses incas, eles eram muito espertos!!)
Nos próximos dias, percorremos vários sítios arqueológicos, tentamos conhecer um pouco da cidade de Cuzco e seus alrededores, vamos numa excursão pelo Valle Sagrado até o pueblito indígena de Chinchero, com uns dois mil habitantes. Lá assistimos a exposição proferida por Naydé, uma moça que trabalha explicando aos turistas, num espanhol ou inglês fortemente marcado pela intonação da sua língua materna, o quechua, como se fazem as mantas, chales e tapetes de forma tradicional, desde a lavagem da lã de alpaca com um sabão que se faz expremendo um tubérculo até o uso de ervas, flores e o milho azul, para obter as tintas. Um saber que se passa de uma geração de mulheres a outras. Andamos um pouco pelas ruas, conhecemos a catedral. Meu filho fica, como sempre, indignado. “E esses malditos espanhóis com seu catolicismo, como conseguiram! Aqui todo mundo, indígenas e não, acreditam em tudo isso!” Eu me encanto com o lugar, com suas ruas de pedra, suas casitas de adobe, as crinças que brincam, as menininhas que se aproximan de nós para vender bonecas feitas “por nuestras mamás”, o atardecer que cai enquanto por aí caminhamos. Mais tarde, nosso guia nos disse– “Pero no se crean, estas personas tienen mucho dinero!” “Como assim?”, pergunta, incrédula. uma senhora italiana que faz parte do nosso grupo. “Pues si, acaban de aprobar la construcción del aeropuerto internacional de Cuzco, aqui en Chinchero. Saldrán los vuelos directos de Europa para acá, muy cómodo para los turistas que vienen por un sólo dia, sólo para conocer Macchu Picchu. A algunos de aqui les conviene, a outros no...”. Na saída do pueblito, vejo as letras carrafais pintadas num muro- "Si hay atropelo a nuestros derechos, no hay aeropuerto! Chinchero es tierra indígena!"
E por aí rola a história...
Eu como simples turista, me impressiono com tantas coisas – as senhoras indígenas que nos assediam constantemente para que compremos suas artesanatos (se pudiera, lhes comprava uma coisa a cada uma!), as casinhas de barro dos pueblitos e as crianças andando pelos campos com seus cachorros e alpacas como fieis companheiros, a pobreza tão visivel de quase todos, os cartazes pré-eleitorais (mas eu não estou informada, não sei quase nada sobre a política atual peruana, só vi um artigo num jornal no qual um candidato que apoia o direito ao aborto e as parcerias civis – ah, pós-modernidade! - é duramente castigado por atentar contra a “lei natural” da sociedade – é, velhos discursos que já conhecemos...)...
(a continuar)
Finalmente, realizo um sonho da minha juventud: uma viagem ao terra dos Incas, ao Peru. A proposta da viagem surge em última hora; na verdade, pensávamos viajar para outro lugar, mais distante, desistimos da ideia – encarar de novo despesas em euro, trocar nosso tão desejado verão, mais uma vez, para o frio do continente europeu, etc. É assim que embarcamos, no final de janeiro, no final das férias que quase se acabam sem romper muito o ritmo costumeiro do trabalho, com passagens obtidas por “milhas TAM” e sem ter tido muito tempo prévio para informarnos ou nos preparar para o que vendrá...
No primeiro dia, vamos navegando as ruas barulhentas de Lima, um trânsito totalmente maluco de carros que parecem empilharse uns sobre outros, motoristas que não param de buzinar, cobradores de ônibus cujo trabalho parece consistir em pular do vêículo a cada quadra, anunciando a rota e chamando o pessoal para subir. Vou conversando com uma dos meus acompanhantes, a Julinha, de nove anos, quem já passou 15 dias nos Estados Unidos, conhece uma boa parte do Brasil – desde o sul e a cidade de São Paulo até as praias e capitais do nordeste brasileiro - e claro, tem assistido filmes e noticieros mostrando incontáveis imagens de todos os cantos do planeta. Por não dizer que antes de embarcar, eu não tinha perdido a oportunidade de falar com ela sobre o Peru, olhando o mapa e fazendo alguma fala, ainda bem “basicão” (afinal, que tanto sabia eu sobre o tema?) da sua história e cultura, tão embebida de raízes indígenas, histórias de resistência, conquista, sobrevivência, miséria... “Julia”, eu pergunto, “isto te lembra àlgum lugar que você já conhece?” Ela fica pensativa uns segundos e logo me responde, “Eu acho que … se parece com a Índia!”
Em Cuzco, ficamos num “Bed and Breakfast” econômico, longe do tão belo centro histórico, num bairro proletário … até a rua onde se localiza chama-se “Avenida Industrial”. Na verdade, os quartos ficam no quarto andar acima da casa dos donos, uma família que trabalha com o turismo. Subimos por uma escada caracol que dá ao andar onde ficam os hóspedes, e desde a qual se sente um leve cheiro de esgoto, pois é, problemas de encanamento. Nossos vizinhos, simpáticos, nos acordam antes da 7 da manhã, conversando e fazendo seu café ou assistindo t.v na área comum que fica de ladinho. Mas logo no mesmo dia, Macchu Picchu o compensa todo – embora inundado por um constante fluxo de turistas (há alguma outra possibilidade?), se conseguiu isolar um pouco o sítio (nada de banheiros e lixeiras lá dentro, só as ruinas e as paisagens inigualáveis, entre os picos das montanhas)- viajamos no tempo, respirando o ar mais puro que jamais sentimos, total admiração por um mundo tão astutamente elaborado a partir de um profundo conhecimento da terra e das estrelas... (como diz outra pequena menina brasileira que descia as escadas de pedra, conversando alegremente com a mãe – “Esses incas, eles eram muito espertos!!)
Nos próximos dias, percorremos vários sítios arqueológicos, tentamos conhecer um pouco da cidade de Cuzco e seus alrededores, vamos numa excursão pelo Valle Sagrado até o pueblito indígena de Chinchero, com uns dois mil habitantes. Lá assistimos a exposição proferida por Naydé, uma moça que trabalha explicando aos turistas, num espanhol ou inglês fortemente marcado pela intonação da sua língua materna, o quechua, como se fazem as mantas, chales e tapetes de forma tradicional, desde a lavagem da lã de alpaca com um sabão que se faz expremendo um tubérculo até o uso de ervas, flores e o milho azul, para obter as tintas. Um saber que se passa de uma geração de mulheres a outras. Andamos um pouco pelas ruas, conhecemos a catedral. Meu filho fica, como sempre, indignado. “E esses malditos espanhóis com seu catolicismo, como conseguiram! Aqui todo mundo, indígenas e não, acreditam em tudo isso!” Eu me encanto com o lugar, com suas ruas de pedra, suas casitas de adobe, as crinças que brincam, as menininhas que se aproximan de nós para vender bonecas feitas “por nuestras mamás”, o atardecer que cai enquanto por aí caminhamos. Mais tarde, nosso guia nos disse– “Pero no se crean, estas personas tienen mucho dinero!” “Como assim?”, pergunta, incrédula. uma senhora italiana que faz parte do nosso grupo. “Pues si, acaban de aprobar la construcción del aeropuerto internacional de Cuzco, aqui en Chinchero. Saldrán los vuelos directos de Europa para acá, muy cómodo para los turistas que vienen por un sólo dia, sólo para conocer Macchu Picchu. A algunos de aqui les conviene, a outros no...”. Na saída do pueblito, vejo as letras carrafais pintadas num muro- "Si hay atropelo a nuestros derechos, no hay aeropuerto! Chinchero es tierra indígena!"
E por aí rola a história...
Eu como simples turista, me impressiono com tantas coisas – as senhoras indígenas que nos assediam constantemente para que compremos suas artesanatos (se pudiera, lhes comprava uma coisa a cada uma!), as casinhas de barro dos pueblitos e as crianças andando pelos campos com seus cachorros e alpacas como fieis companheiros, a pobreza tão visivel de quase todos, os cartazes pré-eleitorais (mas eu não estou informada, não sei quase nada sobre a política atual peruana, só vi um artigo num jornal no qual um candidato que apoia o direito ao aborto e as parcerias civis – ah, pós-modernidade! - é duramente castigado por atentar contra a “lei natural” da sociedade – é, velhos discursos que já conhecemos...)...
(a continuar)
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