(Mais um) FRAGMENTO do livro, “Personagens Menores” (Minor Characters ) de Joyce Johnson.
“No final dos anos 1950, mulheres jovens – poucas, no início – mais uma vez saiam de casa com uma certa violência. Elas também vinham de boas famílias, e seus pais nunca conseguiram entender como as filhas que eles tinham criado com tanta dedicação poderiam escolher uma vida precária. Se esperava de uma filha que ela ficasse sob o teto dos pais até casar, mesmo se trabalhasse um ano, mais ou menos, adquirindo assim um pouco de gosto pelo mundo - mas não muito! Experiência, aventura – estas coisas não eram para mulheres jovens. Todo mundo sabia que as aproximariam do sexo. Sexo era para os homens. Para as mulheres, sexo era tão perigoso quanto a roleta russa; uma gravidez indesejada ameaçava a vida em mais de um sentido. Quanto à arte – as jovens estilosas tinham um lugar como musas e admiradoras.
As que entre nós empreendiamos o vôo para fora não achávamos modelos utilizáveis para aquilo que faziamos. Não queríamos ser nossas mães ou professoras solteironas ou mulheres profissionais duronas como elas eram retratadas na tela. E ninguém tinha nos ensinado como ser escritoras ou artistas. Sabíamos um pouco sobre Virginia Woolf mas não a achávamos relevante. Os privilégios que ela tinha nos desencorajavam, nascida como era num meio literário, e de conexões e riqueza. O “teto todo seu” do qual ela escrevia pressuponha que seu habitante tivesse uma pequena renda familiar. Com nossos cursos superiores, a gente poderia datilografar até fazer uns $50 dólares por semana - apenas o suficiente para comer e pagar o aluguel para um pequeno apartamento em Greenwich Village ou North Beach, sobrando pouco para sapatos ou pagar a conta de luz. Nada sabíamos sobre a romancista Jean Rhys, quem numa época anterior tambem tinha fugido da respeitabilidade, boiando perigosamente na Boemia Parisiense da década de 1920. Talvez tivéssemos nos identificado com sua falta de confiança naquilo que escrevia ou tomássemos como uma alerta a passividade corrosiva das suas relações com os homens. Mesmo assim, nenhuma alerta teria nos parado, com toda essa fome que tínhamos de abraçar a vida e tudo que fazia parte da realidade. A própria dureza da vida era algo para saborear.
Naturalmente, nos apaixonávamos por homens que eram rebeldes. Caíamos muito rapidamente, acreditando que nos levariam junto nas suas viagens e aventuras. Não esperávamos ser rebeldes por conta própria; não contávamos com a solidão. Uma vez que encontrávamos nossos parceiros masculinos, uma fé cega nos impedia de desafiar as antigas regras do masculino e feminino. Éramos muito jovens e tínhamos dado um passo maior do que a perna. Mas sabíamos que tínhamos feito algo que exigia coragem, algo quase inédito. Éramos as que ousaram sair de casa."
Versão: Miriam Adelman
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