Nestes últimos meses, me ocupei com um livro nosso que deverá ser lançado ano que vem, pela editora holandesa Springer (se preparem para coisa boa!). Na retomada, vejam o que preparei para um evento aqui em Curitiba, dia 9 de outubro, junto à APP Sindicato:
Dzi Croquettes
Sinopse:
Nos anos 70, no Brasil da ditadura militar, surge
o grupo teatral Dzi Croquettes , formado basicamente por homens gays. Emerge em torno de uma proposta que
“misturando cabaré com carnaval” leva para os palcos um espetáculo
extraordinário, libertário e andrógino
que une música, dança e sátira de uma forma que rompe os esquemas e paradigmas
da época. Trata-se de uma verdadeira experiência
contracultural à brasileira, que rompe os
esquemas da “normalidade” social inventando uma nova linguagem - que nem o poder da censura era capaz de identificar,
pois não teria, para eles, uma “inteligibilidade” que os permitisse entender em
que realmente consistia a “ameaça” do grupo ao regime e ao status quo. E não
era apenas um grupo de pessoas que faziam e apresentavam juntos um espetáculo:
adotaram um modo de vida comunitária (que foi incluindo também algumas
mulheres, amigas e solidárias, também artistas) e entregaram-se a um projeto
todo que buscava re-significar família e
embaralhava as fronteiras entre masculino e feminino e vida e arte, entre
outros. Atravessaram livremente não só as fronteiras de gênero, de raça e
classe social, do “permitido” e “proibido”
senão também as geopolíticas, levando este pioneirismo da cultura
brasileira para Europa, fazendo sucesso
em Paris. Uma volta precoce para o Brasil é assinalada por alguns dos seus
antigos integrantes como, talvez, o começo do fim – também acelerado pela crise
da AIDS nos anos 80, que abala o grupo com a morte de algumas de suas figuras
centrais. Este documentário acompanha o
grupo desde o seu surgimento até os anos 90 -
antes da morte de Lenny Dale, um norte-americano que “adotou o Brasil” e
que teve um papel chave no grupo - integrando material de entrevistas atuais com
filmagens antigas e a narrativa da diretora Tatiana Issa, cujo pai trabalhou
com o grupo quando ela era criança. Ao
fazer um relato fascinante de pessoas que fizeram uma contribuição singular
para com a cultura brasileira e internacional nas últimas décadas do século XX ,
o filme nos coloca diante da necessidade de usar esta inspiração para avaliar
não só seu legado para com a política e
a cultura brasileiras senão tentar um balanço da própria conjuntura atual, o
futuro das lutas pela “diversidade” e o potencial (ainda?) cultural
transformativo de performances que trabalham – no teatro e no cotidiano – com a
desestabilização, desconstrução e transgressão das fronteiras da ordem
normativa.
Bibliografia
sugerida:
Dunn, Christopher, “Tropicália: modernidade, alegoria e contracultura” In:
Basualdo, Carlos org. Tropicália:
uma revolução na cultura brasileira (1967-1972) Cosac & Naify,
2007.
Pereira, Carlos Alberto M., O que
é contracultura? Editora Brasiliense: Coleção Primeiros Passos.
Miskolci, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas
diferenças, Belo Horizonte: Autêntica Editora pela série Cadernos da
Diversidade, 2011.
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