quarta-feira, 12 de junho de 2013

Poema de amor para um incrédulo / Sandra Cisneros

 (Título original: Love Poem for a Non-Believer)


Porque eu sinto saudade de
você, repasso com a minha mão
a lisura da minha coxa, a curva
do meu quadril, minha bunda
arredondada como uma manga. Imagino-a
como se a mão fosse tua, dedilhando
minhas costelas, o harpejo dos
meus seios, a clavícula que você adora
e eu não.

Meu pescoço é fino.
Você poderia contorná-lo
com só uma mão e
arrancar-me a vida
se quisesse

Cortei meus cabelos.
Não dá mais para puxá-los.
Apenas um jato de fios pretos
entre os dedos agora

Suas mãos friozinhas
passeiam por minha mandíbula
a pele das pálpebras
a nuca
macia como uma boca

e quando nos abrimos como uma
maçã rachada no meio e vemos
o coração
do coração
do coração      essa parte que
você não eu não
mostramos para ninguém
essa parte que queremos recolher

tão logo desenrole
como uma bandeira de seda
ou o berro vindo da mesquita
no horário da oração          não teremos
palavra nenhuma para isto
a não ser      talvez
crença.

Versão: Miriam Adelman

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