sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Retomando os poemas de Denise Duhamel



BARBIE COMO MAFIOSA

                                     Para Dangerous Diane

Quando lhe repassam o saquinho de cocaína,
Barbie foge para seu beco preferido.
Ela tira sua cabeça e se preenche com o pó
Como se fosse tão inocente quanto um saleiro de curvas gostosas.
Os malandros deixam o tráfico de pequenas coisas para ela-
e enquanto ela desliza pelos aeroportos internacionais
ou os agitados cais dos portos, ninguém lá em cima
se enerva. Seja aninhada entre o receptor
e a base do telefone de um automóvel, ou guardadinha
na gaveta de uma cômoda com um pequeno gravador no
seu torso oco, Barbie ama o divertimento e o tesão da aventura.
Mas por ser uma boneca muito séria, ela também sabe dar o beijo
da morte se precisar.  Seus ousados lábios
se recusam a abrir, tornando-a a mais perfeita guardadora de segredos.
Nas conferências de imprensa, ela negará todas as afiliações.
Só estou brincando, dirá ela, ou
Vocês não conseguem provar nada.  Mal tenho cérebro.
Quando a Barbie fica assim tão na cara, por vezes
o poderoso chefão passa apertos. Sua mulher fica com ciúmes,
se perguntando porque a Barbie liga para o marido não-boneco de outra
de cabines telefônicas no meio da noite.
Os detalhes das senhas, dos sapatos de cimento e das propostas irrecusáveis,
todos precisam ser bem pensados. O chefão
vai acalmar sua esposa, argumentando que é só ela
que ele ama:  esta Barbie nem sequer é uma dama de verdade.
Não sei porque você se preocupa.
A esposa admite que se sente tola, mas ao voltar
para a cama fica de olho aberto. Os policiais
se sentem tolos também, prendendo brinquedos.
Por isso a Barbie anda por onde ela quiser tendo a audácia
de deixar seus óculos escuros em casa.   Ela freqüenta
clubes privados enfumaçados e senta à janela nas mesas
dos cafés de Little Italy.  Mas são as praias dos resorts
que ela mais gosta,  onde pode realmente espairecer
e ser ela mesma. Sua pequena caixa de isopor  segura o cantinho
da sua toalha de praia de marca. Ela observa seu namorado loiro
Malibu Ken, mexendo com seus pé-de-pato e óculos.
Ela o ama porque ele não sabe de nada –
mera peça acessória para seus crimes.

- Denise Duhamel.     
Do livro Kinky                                

-          Versão:  Miriam Adelman
-          Revisão: Keo Cavalcanti

2 comentários:

  1. Here's the original:

    BARBIE AS MAFIOSA

    - for Dangerous Diane

    When she’s slipped the bag of cocaine,
    Barbie ducks into her favorite alley.
    She pulls her head off and fills herself up
    As though she’s as innocent as a shapely salt shaker.
    The wise guys leave the trafficking of small things to her –
    and as she glides through international airports
    or bustling loading docks, no one at the top’s
    disappointed. Whether nestled between the receiver
    and base of a car phone, or tucked into a bedroom drawer
    with a tiny tape recorder in her hollow torso,
    Barbie loves fun and the thrill of adventure.
    But being a no-nonsense doll, she can also give a kiss
    of death if she has to. Her sassy lips
    refuse to part, making her the perfect keeper of secrets.
    At the press conferences, she’ll deny all affiliations.
    I’m just playing, she’ll say, or
    you can’t prove a thing. I barely even have a brain.
    When Barbie is this visible, sometimes
    the big boss sweats. His wife gets jealous,
    wondering why Barbie calls another woman’s non-doll husband
    from phone booths in the middle of the night.
    The details of passwords, cement shoes and unrefusable offers
    I’m just playing, she’ll say, or
    you can’t prove a thing. I barely even have a brain.
    When Barbie is this visible, sometimes
    the big boss sweats. His wife gets jealous,
    wondering why Barbie calls another woman’s non-doll husband
    from phone booths in the middle of the night.
    The details of passwords, cement shoes and unrefusable offers
    all have to be worked out. The mob leader
    will try to calm his spouse, claiming she’s the only one
    he loves: this Barbie dame’s not even a real dame.
    I don’t know what you’re so worried about.
    The wife admits she feels silly, but when she returns
    to bed, she keeps one eye open.
    The cops feel silly, too, arresting toys,
    so Barbie goes everywhere with the gall
    of leaving her sunglasses at home. She frequents
    the smoky private clubs and gets window tables
    in Little Italy cafés. But it’s the resort beaches
    she likes best, where she can really unwind
    and be herself. Her little cooler weighs down the corner
    of her tiny designer towel. She watches her blond boyfriend
    Malibu Ken fiddles with his flippers and goggles.
    She loves him because he knows nothing –
    a mere fashion accessory to Barbie’s crimes.

    - Denise Duhamel

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  2. Boa tarde, Miriam. Tenho um blog de poetas norte-americanos e usei sua tradução de Barbie as Mafiosa, que, por sinal, é excelente, de Denise Duhamel. Um blog é http://arspoeticaethumanitas.blogspot.com.br/. Dá uma passadinha por lá, deixa um comentário e, se possível, siga-o, certo? Obrigado, Dalcin Lima.

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