Poema meu, de uns anos atrás (o original em inglês encontra-se neste blog, em postagem
antiga).
antiga).
Dia das mães, 2011.
Minha égua e eu
subimos
a última rua da favela
passando o coágulo de
fumaça
onde uns garotos
queimam lixo:
uma rasgada camiseta
vermelha,
garrafas plásticas,
pacotes de
leite. Seguimos o morro
até o topo,
até os braços de roca
onde a vista
deste pequeno canto do
mundo
nos segura. De repente
não tem mais gente.
Sumiram também
os vira latas amarelos e
seus latidos curtos
e estamos só nos duas,
eu e a
Madja, suas orelhinhas
indo
para frente, para atrás
e para frente de novo,
num galope contido,
pela trilha
de areia que contorna
muralha de
pedra, pinheiros
partidos até
a raiz
Descemos pelo bairro,
minha égua colocando
seus pequenos cascos
um por um, sobre o
arenito
endurecido de uma terra
com sede. Ela me
protege,
protege a cria que
cresce
dentro dela, que virá
na próxima virada
da estação, junto com
os dias mais longos.
E aí vamos, de novo,
por onde os garotos
deixaram a pilha de
restos
amassados, onde voltam
também os vira latas
amarelos
e as senhoras, de
braços cruzados
em baixo do sol
amarelado
do inverno, deixaram os
sacos
de lixo todos
arrumadinhos,
uma fileira de verde escuro
que espera o caminhão.
Uma garota passa
com bebê nos braços.
Será seu? Ontem
assisti um filme sobre
uma mãe
e o filho dela que
virou fumaça,
a história seguindo
seu curso
como nesses dias que
nada
podemos fazer para
pará-la.
Caminhos de pedra,
trilhas de
areia que conduzem ao
topo
ou ao pé do mundo:
terra
baldia de ambos os
lados, e nada
pode fazer-se com os
meninos
uma vez que se
perderam
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