quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Traduzindo Kendra... mais um!



Through a small town  (Kendra DeColo)
    “The truck was incinerated, and it is still burning.”
        New York Times, July 3, 2010.


They heard music
before they heard the storm

before the truck piled
onto  the side of the road

that ran dusty and snake-skinned
through a small town

a flock swelling
inside the ribs of thin trees

and where the road spiked
a finger toward the river

where the river
was the voice of a woman

walking backwards
into a dream

where they dreamed
of running the sky

where the sky swallowed
birds and music and where

children had taught themselves
to gather air and gasoline

and a dog now makes circles
in the ash and damp

dirt spits up an oily heart
and where red birds pierce the dusk

a woman stabs
her shovel into the ground

works through sweat
and insects eating her arms

until she stands in the deep
not knowing how or what

where the road was a ripped
vein and the night bled oil

and bodies swallowed up
in the green music

and if you have ever followed
singing down a dark path

arriving at the church hushed
 with the enormous eyes

of the living like wet leaves
turning through you

tell me who you thank
when you step out into the world

where a tree has wasted
its blossoms at your feet






Numa cidade pequena

      “The truck was incinerated, and it is still burning.”
        New York Times, 3 de julho de 2010.


Ouviram música
antes de ouvir o temporal

antes do caminhão avultar-se
a um lado da estrada

que como uma poeirenta  pele de cobra
atravessava a cidadezinha

 bando de aves expandindo
as costelas de árvores esbeltas

onde  a estrada espetava
seu dedo em direção ao rio

onde o rio
era a voz de uma mulher

andando para trás
dentro de um sonho

onde sonhavam
em comandar o céu

onde o céu engolia
pássaros e música e onde

as crianças tinham se ensinado
a juntar ar e gasolina

e agora um cachorro anda em círculos
por sobre as cinzas e a terra

úmida cuspe um coração gorduroso
e onde pássaros vermelhos perfuram o entardecer

uma mulher esfaqueia
a terra com sua pá

trabalha a pesar do suor
e os insetos que consomem seus braços

até o momento dela pisar nas profundezas
sem saber como ou quê

onde a estrada se tornou
veia rasgada onde a  noite sangrou óleo

e os corpos foram engolidos
na música verde

e se  você alguma  vez  seguiu
 música que conduzia por uma vereda escura

você chegando silenciado numa igreja
 com os olhos enormes

dos vivos como folhas molhadas
revirando dentro de você

me diga então a quem agradecer
quando der aqueles passos que te colocam
   no mundo

aí onde uma árvore desperdiça
seus brotos aos teus pés


 Tradução:  Miriam Adelman


      

                                   Imagem:  Miriam Adelman

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