segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Kendra DeColo... continuando!

Algo para vaporizar dentro de

Ao final do verão, minha língua
tinha o tamanho de um frasco no bolso de um caroneiro,
uma estrada giratória papeando com partículas
de poeira. Eu queria mais e mais disso:
as nuvens em formato de templo lotando
a linha do horizonte, um filme ruim que cintila contra
a janela do ônibus, suspenso como um candelabro
dentro da polpa de quartos infinitos.
Havia cheiro de laranjas e se compensava
todo o tempo perdido, inventando sabores para cada
tom de azul enfiado nas folhas
das árvores que ultrapassamos.  A chuva veio, rachando as
nuvens até se escoarem umas nas outras
como prata, como carne que engole
uma bala e pare uma semente. O jeito de uma estrela
rasgar o céu da noite sem poder dizer
os muitos segundos que levou, atônita
no arrebol, querendo ajuntar cada grão,
cada fissura, cada faísca dentro do mais alto
elevador do mundo, favelas feitas de sucata-
luz para pessoas como nós que sabemos que são os anjos
os que fazem o trabalho sujo, coletando a beleza
que desperdiçamos: esta dolorida veia de estrada e ar,
insaciável nuvem moldada como a imaginação
do fogo, voltando à casa, que seja só para que
meu coração reluza suas guelras, ecloda numa epilepsia
de peixinhos aos teus pés, pelas coisas
que amamos, contra, dentro de, pelas coisas
a que não sobreviveremos, pelo gosto do verão
e tudo o que estará lá sem nós,
materializando no doce vapor.

--   Tradução de Miriam Adelman & Takeshi Ishihara.


Something to vaporize inside of
Kendra DeColo

By the end of summer, my tongue
was the size of a flask in a hitch hiker's pocket,
a swiveling road making small talk with dust
particles.  I kept wanting more and more of it:                                                                                             ´
the temple-shaped clouds crowding
the skyline, a bad movie glittering against
the bus window, hung like a chandelier
inside the pulp of infinite rooms.
It smelled of oranges and made up
for lost time, inventing flavors for each
shade of blue tucked into the leaves
of passing trees. The rain came, slashing
the clouds until they oozed into one another
like silver, like flesh swallowing
a bullet and squeezing out a seed. The way a star
can rip open the night sky and can't tell
the many seconds it took, stunned
in the after-light, wanting to hoard each kernel
each fissure, each spark inside the world's
tallest elevator, shanty-towns built of scrap-
light for people like us who know angels
do the dirty work, collecting the beauty
we waste: this achy vein of road and air,
insatiable cloud-shaped like the fire's
imagination, coming home if only to let
my heart flash its gills, erupt into an epilepsy
of minnow at your feet, for the things
we loved, against, inside of, for the things
we won't survive, the taste of summer
and all that will be there without us,

materializing in the sweet vapor.

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