quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Diane Wakoski, poeta.

[Aproveitando meu novo ofício de blogueira, que me estimula a escrever mais livremente – ter a coragem de fazê-lo!- e partilhar coisas como, neste caso, o gosto pessoal pela obra de uma poeta:]

Nascida na Califórnia, em 1937, de origem étnica polonesa e com raízes na classe trabalhadora, Wakoski é uma poeta muito prolífica, mas pouco conhecida por aqui. Inspirada por poetas norteamericanos como os grandes William Carlos Williams e Allen Ginsberg, e pese as ressalvas que ela diz ter de ser identificada como uma poeta “feminista” (“One of the reasons I have not been wanting to be called a feminist poet is that the label seems to lump all women writers together, as if we have a common message. I am not even sure that I have a message, but if I do, it is full of contradictions and paradoxes and perhaps even baffling” ), sua voz articula, à sua maneira – observando, sentindo, se permitindo todas as viagens possíveis, sem exigências de “coerência ideológica” - um olhar sobre a vida desde uma perspectiva de sujeito-mulher, crítica e pois... feminista!

Tenho quatro livros dela (pouco, pensando que ela já publicou mais de 40), cada um lido já várias vezes. Venho nestes dias relendo Medea the Sorceress (Black Sparrow Press, 1995), um trabalho que me parece genial. É composto por poemas, cartas e até pequenos extratos de um livro sobre física quântica (para acrescentar reflexões sobre várias questões : por exemplo, o que é o “real”, ou o caráter inseparável de corpo, matéria, pensamento e imaginação ...) Também neste livro ela aborda sua passagem para a “meia-idade” (Me identifico!). E prevalece nele uma linguagem quase cotidiana, mas metaforicamente rica e sempre casada com reflexões filosóficas; trata-se portanto de um cotidiano denso, onde cada coisa, por “banal” que pudesse ser, se carregue de denso significado existencial onde nos poderemos encontrar, com nossas problemáticas partilhadas. Emprega muita ironia, e embora pretenda muitas vezes ser forte ou enfática naquilo que coloca, conserva também uma atitude brincalhona.

Cativam-me as diversas metáforas (figuras, “tropos”) que ela desenvolve para significar seu próprio caminho pela vida, que não só se repetem ao longo do livro senão representam uma continuidade com livros anteriores. Esboço apenas algumas, muito sinteticamente:

Medea dos poderes mágicos: embora à procura do amor, encontra-se com a traição. Assim, se o desencontro e as expectativas (românticas, ridículas?) falidas caracterizam sua vida, desta surge a agência feminina - movida, principalmente, por ciúme, raiva e o desejo da vingança, é verdade E afinal, recupera para si um poder. Jason, quem a trai, significa, de diversas formas, todos os homens... ou quase todos.

A Carteira (“the Postmistress”). A portadora de cartas e mensagens (entre os ancestrais da poeta, há alguém que cavalgou o país pelo legendário Pony Express). Para esta personagem, a vida gira em torno da lógica da comunicação/conexão: o impulso de levar aos outros cartas e mensagens, de construir pontes com as palavras.

the Silver Surfer/Steel Man/King of Spain: as várias versões de suas fantasias erótico-amorosas.

O marinheiro, ou o pai: que na cultura patriarcal norteamericana, é livre no sentido de ir e vir em função de si mesmo, e de quem não se deve esperar... que volte!

A dama da luz/o arquiteto da luz: quem – mulher, homem, qualquer um , talvez uma forma de assumir os desafios existenciais?

Bom, por enquanto paro por aqui com minhas reflexões. Demorei muito para escolher um poema dela para partilhar com vocês. Decidi por este: poema perceptivelmente autobiográfico, muito forte. Publico aqui na versão original. [Pretendo em algum momento tentar traduzir algo da obra dela, mas os poemas costumam ser muito longos, com uma densidade e certas outras características que me dificultariam o caminho à produção de uma boa “versão” , percebo...Ou talvez alguém queira me ajudar! ].

MEDEA THE SORCERESS

She is in the Home for Unwed Mothers in
Pasadena, the only girl who reads poetry. He
writes to her from his prep school, and she memorizes
the sonnets of Shakespeare as she takes her exercise
on the dusty, scrubby grounds of
The Home.

No enchantment changes her life.
She is told by the Social Worker that she has
FAILED because
she still loves J
she doesn´t regret doing anything for love,
she doesn´t believe she is bad
she doesn´t regret giving up her child
she believes her life will go on, the same as it has
always gone on
she won´t talk about her mistakes.

This is the same as being on the desert,
this life in the linoleum-floored room,
eating with girls who have been raped by their fathers,
and girls who got caught but didn´t know with what man
and girls who were only 13
and girls who were nurses sleeping with doctors
and girls who wanted to forget everything and join the army,
girls who were all pregnant and ashamed and who knew they were
wandering some desert, though most of them,
most of us, didn’t know
the names of desert rattlers, or moths like the Dusty
Silverwing, or
about the tiny burrowing owls, or the lingering scent of
sagebrush
when the night was pure, pure as we knew we still were.

So, if she were Medea, when the letters came
talking casually about his dates with other girls, un-pregnant
girls,
she decided that she would have no choice. She
would kill him, and her children, and like the Sorceress
leave for another world, in her chariot drawn by dragons.

She gave up her baby. No regrets. Only the weak have
regrets. She flew in her chariot with all her dragonlady power to Berkeley,
then New York, then the Midwest, and finally to this Café
where she sits telling the tale, not of the tribe,
but of herself, and in spite of what others say, she knows
that the song that this Silvery Moon Questing Lady of the
Dragonlight sings,
is the tale for at least half
of the tribe.

Strum, Gunslinger.
Hail, Maximus.
Ascent is descent, Dr. Paterson,
O, Love, one-eyed poet, where are you leading me now. No
one should
Be at the Home for Unwed Mothers. That is the real
Wasteland.
These epistles, not Cantos or songs will be for Craig,
Knight of Hummingbird Light,
for Jonathan who understands the myth of the woman
“Sleeping In
Flame”,
For Steel Man, my husband, who loves me at night in his
invisible Cap of
Darkness,
and for all women, the other half of the tribe,
for Eve who dared to eat the apple, I write this letter
and sign myself,
Diane

The Lady of Light.

Um comentário:

  1. Miriam, seu blog está um encanto, adorei essa última postagem, muito linda!

    Sua irmã também é uma excelente escritora, o conto dela está fabuloso, tanto que me inspirei a escrever uma coisinha (tipo um conto) sem compromisso também. Se você tiver contato com ela e souber de algum outro conto que ela já tenha escrito, enfim, eu adoraria ler.

    Abraços

    Cristopher Feliphe

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